08/07/2025
PSICOLOGIA EXPERIMENTAL
Entre a variedade de ramos e correntes da psicologia, a psicologia experimental é aquela que defende que as questões da psique podem ser estudadas através da observação, da manipulação e do registo das variáveis que têm influência no paciente. Trata-se, portanto, de recorrer ao método experimental.
A psicologia experimental tem a sua especificidade, na sua metodologia. Qualquer corrente psicológica que empregue o seu método (o experimental) poderá inserir-se no âmbito da psicologia experimental, independentemente do seu interesse central.
DESENVOLVIMENTOS DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL
Após as revoluções científicas coperniciana, galileana e newtoniana, o método experimental tornou-se a base para o estabelecimento da Física como o modelo acabado de ciência natural. Com Copérnico, o mundo deixou de ser o centro do universo; Galileu provou que o experimento era a base para a explicação dos fenômenos físicos que se passam nesse universo; e depois de Newton, o universo passou a ser entendido como uma máquina que funciona como um relógio, regida por um parcimonioso e elegante conjunto de leis matemáticas. Em comum, essas revoluções tinham como base o método científico ou experimental.
A orientação nomotética da mecânica newtoniana e a prática do método experimental introduzido por Galileu foram, desde o século XVII, aplicados às mais diversas realidades que alguém pretendesse conhecer, e entre essas realidades estava a psicológica. O século XIX presenciou diversas tentativas de transformar a psicologia em uma ciência autônoma, ou, de maneira mais genérica, de conceber uma prática científica que desse conta da vida mental. As iniciativas mais bem-sucedidas, na medida em que estabeleceram marcos amplamente reconhecidos na história da psicologia científica, foram aquelas que levaram os problemas psicológicos para o laboratório. Claro está que houveram abordagens concorrentes, sobretudo as que defendiam que a psicologia tinha um status diverso das ciências naturais em virtude do seu peculiar objeto de estudo, e que portanto ela deveria responder a outros critérios epistemológicos.
O PAPEL DA FISIOLOGIA EXPERIMENTAL
Os avanços neurofisiológicos da primeira metade do século XIX também contribuíram para a transformação da psicologia em uma ciência empírica e experimental. Esses estudos foram realizados por fisiologistas como o inglês Charles Bell e o alemão Johannes Müller, bem como as primeiras tentativas de localização de funções no cérebro, no campo da afasiologia de Broca e Wernicke. Os estudos experimentais em fisiologia das sensações, como o isolamento de nervos raquidianos, e teorias como a doutrina das energias nervosas específicas, resultariam numa tradição de pesquisas que visavam a formular equações de medição de sensações subjetivas, identificar limiares de percepção e tempos de reação a estímulos sensoriais, e determinar se a origem de habilidades perceptivas como a percepção de espaço, de tamanho e de distância eram inatas ou aprendidas pela experiência. O estudo dos reflexos, iniciado no século XVII pelo próprio Descartes incidiu na distinção entre ações voluntárias e involuntárias.
JOHANNES MÜLLER (1801-1858)
Johannes Muller foi professor de Anatomia e Fisiologia na Universidade de Berlim, onde foi um defensor da aplicação do método experimental da Física à Fisiologia. O principal livro de Johannes Müller foi o Handbuch des Physiologie des Menschen. Publicado em 1833/40, resumia a pesquisa fisiológica do período e sistematizava o conhecimento do campo. Trazia discussões pormenorizadas sobre percepções e sensações profundas, e a exposição completa da doutrina das energias nervosas específicas. Essa teoria sobre as sensações diz respeito aos diferentes tipos de sensações que experimentamos. Os sentidos são condições dos nervos, e não propriedades das coisas que os excitam. As sensações são qualidades, ou estados peculiares presentes nos nervos ou no cérebro, apenas tornados manifestos por causas excitantes externas ou externas. Contudo, a mesma causa, seja interna ou externa, provoca diferentes sensações em cada sentido, de acordo com o nervo que excita. Interpretar as mudanças nos nervos não passa de interpretação da razão e da imaginação. A qualidade da sensação é do nervo, e não do objeto externo; cada nervo tem sua qualidade e seu tipo de sensação, inadequado a outros nervos; a causa da energia pode localizar-se no próprio nervo ou em partes do cérebro ou da medula às quais ele se liga (vislumbra localização cerebral).
WILHELM MAX WUNDT (1832-1920)
Médico e fisiologista, Wilhelm Wundt estudou Medicina com Johannes Müller e Du Bois-Reymond em Berlim, e foi assistente de Hermann Helmholtz em Heidelberg. Foi professor de Filosofia em Zurique, de onde partiu em seguida para Leipzig em 1875, onde assumiu a cátedra de filosofia e fundou, em 1879, aquele que seria considerado o primeiro laboratório de psicologia do mundo, o "Instituto de Psicologia Experimental".
Em Leipzig, o Instituto de Psicologia Experimental tornou-se, entre as décadas de 1880 e o início do século XX, um verdadeiro centro internacional de pesquisa em psicologia. Lá Wundt foi professor e/ou supervisor de dezenas de pesquisadores (psicólogos, fisiologistas, psiquiatras), de várias partes do mundo (EUA, Inglaterra, Rússia, França, além da própria Alemanha), entre os quais encontramos a maioria dos principais nomes da psicologia norte-americana da virada do século XIX para o XX. Esses pesquisadores traduziram as obras de Wundt para seus idiomas, e, voltando a seus países, geralmente instalavam laboratórios nos moldes do Instituto em Leipzig, adotando a mesma instrumentação. No entanto, excetuando-se o caso de Edward Brandford Titchener, um inglês radicado nos Estados Unidos que foi o primeiro assistente de Wundt, a maioria dos egressos de Leipzig não adotavam integralmente as posições teóricas e metodológicas do professor alemão. Na verdade, o que eles buscavam junto a Wundt era a aproximação de uma maneira pela qual a psicologia podia ser introduzida como prática científica reconhecida.
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