14/08/2025
KAMPÔDIA E O DESCONTO
Mano, cá entre nós… já tá a ser demais. O Kampôdia, esse mesmo que faz trabalhos escolares de ponta, cobra 100 mil Kz por cada. E sim, ele merece. O brô estuda, lê artigos, faz pesquisas de verdade — aquele tipo de trabalho que até o professor lê e diz: “Uau!”. Mas olha só o filme…
Aí vem o estudante, aparece todo aflito no inbox:
— “Kampôdia, tenho uma defesa urgente. Salva-me, só tens que meter mesmo qualidade!”
O Kampôdia responde:
— “Cem mil, mano.”
E começa o drama:
— “Epah, só tenho 60… 50… 45 mil.”
Tipo, o quê? Queres um prato de luxo e só pagas o feijão?
Mesmo assim, o Kampôdia olha, pensa, e diz:
— “Tá bem, manda vir.”
Mas já não é o mesmo Kampôdia. O fogo no peito já não tá igual. A motivação foi-se com os 40 mil que f**aram pelo caminho. Ele vai fazer, sim… mas já não com aquela alma que ele mete quando o valor é justo. Porque uma coisa é fazer por gosto, outra é fazer por esmola.
O povo gosta de desconto. Mas não entende que quando se baixa o preço, baixa também o ânimo. A qualidade entra em coma. Porque o Kampôdia, quando cobra 100 mil, já calculou tudo, net, tempo, paciência, olhos a arder a ler artigos, energia para puxar ideias do além. Mas o cliente? Quer é o produto final, barato e já.
No fim do dia, o brô entrega o trabalho. O estudante f**a feliz, até tira 15, 16, 17... Mas ninguém vê o Kampôdia no fundo do quarto, deitado, cansado, sem lucro e sem moral.
E qual é a moral?
Desconto pode matar o talento.
E quem vive só de abaixar preço, morre sem valor.
Obra: "As crónicas também falam"
Autor: Tomás Eugénio Tomás