05/08/2025
Lacan nos lembra que o desejo é sempre desejo do Outro — ou seja, nossos sonhos muitas vezes são construídos a partir das expectativas, fantasias e imagens que internalizamos desde a infância. Desejamos ser algo ou alguém que represente uma resposta ao nosso vazio, à nossa falta constitutiva. E essa busca é legítima, necessária até. A vida precisa de futuro, de projetos, de movimento. Sem sonho, o sujeito estagna. Mas quando o sonho se torna uma fuga da realidade psíquica presente, nasce o sofrimento.
Para não cair na armadilha narcísica de um ideal inatingível, daquele “eu ideal” que só vive no Instagram, nas comparações destrutivas, nos projetos que nunca chegam porque o agora está sempre sendo descartado como insuficiente.
Já Freud, nos diz ainda mais entre o princípio do prazer e o princípio da realidade. Que o sujeito deseje, que sonhe, mas que não negue o que já está em jogo no aqui e agora. Porque, afinal, só se sonha com os pés no chão. E só se transforma a vida quando se aceita habitá-la.
Na clínica, vemos com frequência pacientes que vivem no "quase": quase felizes, quase prontos, quase inteiros. Sempre esperando algo externo para começar a viver de fato. Como se a vida real estivesse suspensa até que o ideal se cumpra. E, nesse movimento, a existência concreta, com suas doçuras imperfeitas e suas potências já disponíveis, vai sendo negligenciada.
Viver com o que se tem, com quem se é, com os recursos já disponíveis, sem que isso signifique resignação, mas sim enraizamento. Porque quem vive de verdade a vida que tem, ganha solo para ir atrás da vida que deseja.