19/12/2024
MARIA ELIAS
Apresento-vos hoje a minha bisavó Maria Elias (sentada na foto) faleceu na véspera de Natal, há exatos 90 anos, com 66 anos de idade. Consta do seu atestado de óbito que morreu de "etilismo crónico". Bem me diziam que eu era filho da cepa. Quem sai aos seus não degenera.
Maria do Rosário do Nascimento, seu nome de batismo, nasceu pelas 7 horas da manhã no dia 26 de outubro de 1868 na Cumeira, freguesia do Juncal, concelho de Porto de Mós, filha legítima de António do Nascimento, alfaiate, e de Francisca Elias. Como era comum naquele tempo, as filhas adotavam o nome das mães, por isso ela ficou conhecida como Maria Elias. Era neta paterna de Theodoro dos Reis, também alfaiate, e de Francisca Maria, ambos da Cumeira, e materna de José Elias, natural de Aljubarrota, terra onde, no dia 14 de agosto de 1385, uma famosa padeira com seis dedos em cada mão matou à pazada sete castelhanos.
Maria Elias, casou em primeiras núpcias com José Luís dos Santos, natural do Chão Pardo. Dois filhos sobrevireram desta união, o meu avô Augusto Luís e uma irmã dele, Maria Luís. Ambos "fugiram" de Portugal, ainda bem jovens, por razões similares. O meu avô Augusto Luís "fugiu" para o Brasil em 1911, com 23 anos de idade, para não ser forçado a casar com a Maria de Jesus, que ele engravidou, filha de António da Graça e de Maria Ferreira, todos da Cumeira, de quem nasceu o Joaquim "Piloto", que bem conheci e que sempre me tratava por "parente".
Divirto-me a contar aos brasileiros que me tratam de colonizador que, quando muitos iam para o Brasil fazer fortuna, o meu avô veio para cá gastar a que tinha. Para amenizar o estrago, considerando que ele era um bom partido, minha avó, Maria Coelho (de pé, na foto, ao lado dele), fez um trato com ele: "eu pago a tua viagem de volta para Portugal e tu prometes casar comigo". Augusto Luís não se fez rogado e aceitou o trato. Voltou para Portugal e casou com a minha avó em 1915.
Quanto à irmã dele, Maria Luís, o assunto foi similar mas inverso. Em 1916 ela "fugiu" para os Estados Unidos da América, com 21 anos de idade, porque a mãe dela, minha bisavó Maria Elias, queria que ela casasse com um homem muito mais velho do que ela. Na América, ela casou com um português da mesma idade e teve 5 filhas e 1 filho, cujos descendentes ainda hoje vivem em New Bedford no Estado de Massachusetts.
Uma curiosidade que explica porque no meu torrão natal somos quase todos primos, é porque um irmão da minha bisavó, o Theodoro António do Nascimento, casou com a Genovéva Maria de Jesus, irmã do primeiro marido dela e tiveram muitos filhos.
Maria Elias casou, em segundas núpcias, com Manuel Coelho Ferreira, mais conhecido como Manuel do Casal. Desta união nasceu o meu tio-avô, Joaquim do Nascimento Barros, mais conhecido por Jagunço, que morreu solteiro. Era considerado um "simples de espirito", porém amoroso e brincalhão. Tinha como divertimento soltar peidos a quem os pedisse: "quantos queres? quantos queres?". Enquanto ele soltava peidos nós soltavamos gargalhadas sem fim.
NOTA: Maria Elias, apesar de bêbada, não alienou um palmo do seu património do qual uma parte ainda hoje continua na família. As crianças da foto são os primeiros filhos do consórcio entre Augusto Luís e Maria Coelho, ou sejam, o meu pai, Manuel Coelho Luís, mais conhecido como Manuel Augusto, que veio a casar com Maria Emília Faustino Ribeiro, natural da Ataíja de Cima, Aljubarrota e a irmã dele, Luísa Coelho dos Santos, que veio a casar com Fernando Santiago Lopes, do Juncal.