19/03/2020
⚠️CORONAVÍRUS E AS CRIANÇAS EM CASA👧
A pandemia que assola o mundo nesse momento (COVID-19) vem, assim como outros acontecimentos de grande impacto: o colapso climático, os desastres ambientais, entre outros fenômenos, servir de alerta. Como uma grande luz vermelha que se acende sobre a humanidade, para nos lembrar que nem só de concreto se constroem caminhos, nem só de trabalho se constroem futuros, nem só de multidão se constrói civilização e humanidade. Porém, essa luz vermelha não apenas sinaliza, ela também escancara a vida como um refletor em nossa frente, nos obrigando a parar e observar. Não apenar olhar, não apenas saber da existência, mas também ver, enxergar e sentir o nosso entorno e as pessoas que ali estão. De repente passou-se a olhar para os corrimãos, para o assento ao lado, para a face abatida, cansada ou preocupada do sujeito que passa pela rua. Estamos sendo obrigados a pensar sobre a vida das outras pessoas, pensar sobre o bem-estar alheio como condição, enfim, para o nosso.
Porém, não é tão simples assim desacelerar, pensar nos hábitos, desligar o modo automático e de repente ter de olhar para a vida por outra perspectiva: a perspectiva da autonomia e da responsabilidade. “Ah, mas eu já faço isso e não precisei de uma epidemia global para tanto!” Ok! Mas será que você já se deparou tão de perto com a responsabilidade e consequências da vida real, íntima e comunitária? Teve de olhar para dentro de si e refletir sobre a influência de suas atitudes – ou a falta delas- na vida de outras pessoas? É importante pensarmos sobre a responsabilidade de nossos atos e/ou sobre a falta de deles (por mais estranho e paradoxal que possa parecer, a decisão de não agir também é uma ação).
Observemos ao nosso entorno, como o exemplo das escolas suspendendo aulas e a criançada em casa. Pais e cuidadores de acordo com as medidas de segurança sanitária, afinal ninguém quer ver seu filho ou outro familiar doente. Mas o que fazer com a criança que antes passava 4 horas (ou mais) na escola? Eis que a alternativa unanimemente e amplamente utilizada é: um tablet ou celular! Quem nunca se viu aliviado pelos momentos de silêncio e calmaria, enquanto os pequenos consomem conteúdos dos mais variados para o público infantil. Entre jogos, filmes, desenhos, séries, vídeos de brinquedos, unboxings, e o mais interessante, do meu ponto de vista: vídeos de crianças e/ ou adultos brincando. Você já parou para pensar que cena mais representativa e sintomática da era em que vivemos? As crianças deixam de brincar para assistir outras crianças brincando. Com certeza, isso terá maiores ramificações, que veremos em breve. Podemos começar pensando sobre qual o papel da brincadeira na vida de uma criança, de forma direta e sem teorizar muito: A brincadeira é essencial para que a criança consiga se desenvolver psicologicamente, consiga lidar com suas emoções, com as vivências cotidianas. A brincadeira é FUNDAMENTAL e INTRANSFERÍVEL, assim como não dá para se nutrir só vendo outra pessoa se alimentar.
Imagine, quem nessa relação entre espectador e produtor de entretenimento terá a oportunidade de se divertir, de ter boas vivências e lembranças afetivas sobre suas brincadeiras? Algumas crianças YouTubers, por exemplo, gravam vídeos com seus pais e são extremamente populares entre as crianças, não é por acaso. Veja bem: não estou dizendo que as crianças não podem consumir conteúdo digital. Inclusive, acho uma ferramenta importantíssima, e se bem utilizada traz muitos benefícios. O problema é o excesso! Estou afirmando que elas precisam – e merecem- mais do que a vida observada em uma tela de smartphone.
Nesse momento você tem a oportunidade de ser protagonista do olhar para a criança, e perceber suas necessidades afetivas e desenvolvimentais. Afinal, nem só de silêncio se tem paz, nem só de calmaria se tem tranquilidade. Haveremos de nos responsabilizar pelas horas, pelas escolhas e pelos momentos que as crianças passarão em casa. Aproveite esse momento para conhecer melhor os gostos, as potencialidades e a forma como a criança experiencia a vida. E saiba que “a maior aptidão do ser humano é adquirir novas aptidões”, então tanto a criança, quanto o adulto, podem mudar o hábito do uso excessivo do celular/tablet e adquirir novos hábitos. O importante é estar presente e ativo na vida da criança de forma saudável, tornando essa situação oportuna para criar novos caminhos e olhares sobre a infância. 👨🦱♥️👧
Psicóloga Marcia de Bastos Braatz 🌻
CRP-RS 07/31603