
04/02/2024
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Este trecho eu dedico a uma de minhas pacientes, pois ela me motivou a escrever este texto
Um sofrimento por sofrer
Todos nós sofremos. Aquilo com o que sofremos, o quanto sofremos e por quanto tempo sofremos é diferente para cada pessoa em sua única e exclusiva forma de sentir. Porém, muitos já ouviram algo do tipo “isso não é motivo de sofrimento", ao que se segue em geral: “olhe em volta, tem gente que não tem nada"; talvez tenham ouvido “ não seja dramático ou dramática”, e assim por diante.
À medida que observamos as mazelas do mundo, tendemos a comparar “sofrimentos" e aceitamos coisas como “aquele é quem sofre realmente".
O que digo a meus pacientes é que não existe sofrimento pequeno ou grande sob qualquer forma de comparação. O sofrimento é real e todos temos o direito de sofrer. Assumir o direito de poder sofrer é fundamental.
Ouvir que somos “abençoados”, privilegiados de alguma forma, que temos muito enquanto outros não têm nada é uma fonte de gerar mais e mais ansiedade, quando não pânico.
Quando ouço “nem deveria reclamar porque...", "fizeram tudo por mim", "tem gente passando por tantas necessidades"; “eu nem deveria dizer isso, porque há tanta coisa pior acontecendo, etc.", vejo o quanto do sofrimento das pessoas foi envolto em camadas de culpa, de sentimentos de vitimização que chamo de “ um sofrimento por sofrer".
Na clínica, todo sofrimento é legítimo. A questão é aceitá-lo como tal e partir desse ponto.
Veja, digo “um sofrimento por sofrer" porque “o sofrimento" não existe de forma substancial, existe de forma instanciada. Temos muitos tipos e formas de sofrer.
É na escuta clínica que podemos reconhecer esse “um sofrimento por sofrer".