10/05/2018
A Dor Emudecida na Anorexia e na Bulimia.
Gardênia Medeiros*
Muitos estudo na área médico-psicológico geralmente consistem numa descrição fenomelógica, sendo associada a uma exagerada preocupação com o corpo, corbodorada pelo ideal social de um “corpo perfeito” que preconiza como padrão estético. Relacionada a este ideal, portanto, encontra-se a proliferação de inúmeros tipos de dietas , moderadores de apetite, cirurgias estéticas. .
Entre os estudos psicanalíticos, existe um relativo consenso em atribuir esses sintomas na imagem que elas tem de si mesmas.
Partindo da escuta de minhas pacientes, em suas histórias percebo certos aspectos em comum. Elas apresentam a problemática da imagem de si mesmas, sendo frágeis as suas sustentações enquanto sujeitos. Além disso, as manifestações de anorexia e bulimia iniciam-se após um rompimento amoroso vivido por elas , como experiências de abandono, de desamparo. Ao longo do processo de suas análises, essas pacientes puderam falar da difícil relação que tinha com suas mães, sentindo-se “abandonadas” por elas.
A frágil imagem de si característica das pessoas que apresentam Anorexia e Bulimia, muitas vezes decorre do fato de se sentirem atendidas somente em suas necessidades orgânicas e não encontrarem acolhimento em suas demandas psíquicas
Essas pacientes se consideram as únicas responsáveis por eles, como sua insuficiência ou desvalor fosse algo razão de suas dificuldades alimentares, como se essas mulheres não tivessem uma história. Somente ao longo de suas análises é que foi, encontrada uma narrativa, uma história, que seus atos acedessem a fala.
A partir desses casos podemos pensar que a Anorexia e a Bulimia- ou seja, a recusa a ingestão excessiva seguida pela expulsão do objeto-o alimento-parecem ser tentativas de estabelecer uma separação, até então impossível de ser simbolizada.
Desta forma, ao invés de ser abandonada é ela a (Anoréxica ou Bulimica) quem abandona, quem recusa. Faz a tentativa de passar da experiência que viveu passivamente para a atividade. Ao invés de ser abandonada ela se torna autora da separação .A problemática da Anorexia e da Bulimia ,muitas vezes, são interpretadas como atos puramente destrutíveis, quando parecem justamente o oposto .A morte física, consistem também uma luta pela vida, pela vida psíquica, sendo uma tentiva de estabelecer uma falta de separação até então impossível de ser simbolizada.
Nessa direção tanto na Anorexia quanto na Bulimia, encontra-se uma problemática de domínio, de controle, porém mais do que controlar, dominar o objeto, a tentativa do paciente parece ser de defesa, de sair da situação de que se encontra “dominada e engolida”. Podemos pensar que essas manifestações consistem na única forma de se rebelar e de dizer não, para conseguir o acesso da condição subjetiva. Essas pacientes, em seu silêncio “pedem”, um reconhecimento enquanto um ser diferenciado.
Mediante essas manifestações alimentares é como essas jovens “dissessem” que mais que o objeto da necessidade orgânica, era do objeto da necessidade psíquica que precisavam viver e não morrerem enquanto sujeitos.
A partir desses casos, penso que essa possa ser uma direção da clínica da Anorexia e da Bulimia, ou seja, que essa dor emudecida possa ter uma inscrição, uma representação que possa então ser nomeada. Que o ato possa dar lugar a palavra. Por isso é necessário que o paciente encontre uma acolhida por parte do analista. Isto é, uma acolhida que possibilite, que permita uma separação e uma diferenciação. Que nós analistas possamos oferecer um olhar um testemunho, possibilitando o apelo emudecido, sufocado, e desesperado de uma paciente encontre uma significação.
Enfim que essas pacientes possam falar, simbolizar esse vazio e essa dor até então silenciosa possa ser nominada, que no lugar do ato possa vir enfim a palavra. Que possam enfim, escrever ou reescrever a sua história.
Psicanalista Clínica em Chapecó e Xanxerê.
Psicanalista Institucional em Chapecó e xanxerê.
Supervisora clínica.
Coordenadora de grupos de estudos e seminários.
Psicanalista do Presídio Regional de Xanxerê.
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