08/10/2025
Quantas vezes você já se pegou pensando qual é a frase certa para dizer ao seu filho numa situação complexa, como se uma única palavra pudesse proteger, ensinar e, ao mesmo tempo, corrigir tudo o que você mesma ainda sente não ter conseguido viver?
Uma mãe dizia à filha para confiar em si mesma e não se comparar com ninguém, e enquanto falava disso se lembrava de como ainda carregava a dor das comparações que a diminuíram.
Outra aconselhava o filho a escolher bem os amigos, e no mesmo instante surgia a memória das relações em que ela mesma ficou mais tempo do que gostaria, porque sair parecia impossível.
Teve também quem pedisse à filha que não vivesse apenas para agradar, mas recordava quantas vezes abriu mão dos seus desejos para não desapontar ninguém.
E (a última juro) aquela que dizia à filha que não precisava se preocupar tanto com o corpo, enquanto passava horas brigando com o espelho, tentando caber em uma imagem que nunca a contemplava por inteiro.
Essas falas são legítimas, nascem do cuidado e da vontade real de que os filhos vivam diferente, mas junto desse movimento aparece também o peso das marcas que ainda não foram elaboradas a comparação que ainda machuca, a amizade da qual foi difícil se desprender, o sonho que ficou guardado numa gaveta, o corpo que nunca parece suficiente.
Essa mistura não é incoerência e não é fracasso, é vida acontecendo, é amor tentando proteger, é desejo de transmitir algo melhor mesmo sem ter todas as respostas. E talvez seja justamente aí que a análise se torne um lugar possível não para pensar nas frases perfeitas (isso o Chat faz melhor que qualquer analista) mas como espaço para transformar aquilo que ainda prende, para que os filhos herdem não só as marcas da dor,
mas também a força de quem ousou atravessá-la.
Ps: Talvez por isso o ChatGPT nunca vá nos substituir totalmente: ele ainda não inverte a lógica da pergunta, só nos mima, nos dá o que queremos e isso, no fim, não muda ninguém. Mas isso é assunto pra outro post...logo mais!