04/06/2025
Para Winnicott, a conduta antissocial não é uma perversão moral, mas um pedido de socorro, uma esperança desesperada. Trata-se de um sujeito que experimentou uma falha ambiental — uma ruptura no cuidado — e, ao agir de forma destrutiva, não está apenas desafiando, mas clamando pela restauração de um vínculo. Ele não desiste da relação; ao contrário, testa se ainda pode confiar no mundo.
Essa perspectiva aproxima-se da noção lacaniana de que o sujeito se constitui no campo do Outro, e que toda manifestação, mesmo a mais disruptiva, é endereçada a esse Outro. A conduta antissocial, nesse ponto, pode ser lida como um acting out, uma passagem ao ato que tenta fazer aparecer o sujeito onde ele se viu apagado — "o grito de desespero é uma mensagem sem decodificação possível, a não ser pela via da escuta analítica."
Se, para Lacan, todo sintoma fala, aqui o gesto antissocial é o significante de um rompimento estrutural — o sujeito exige do laço social a garantia de que ele ainda pode ser incluído, ainda pode ser reconhecido.