10/09/2025
A cura não é um raio que cai do céu. É um fio de luz que se desenrola lentamente pelas frestas da alma. Ela não acontece de forma subita, como um estalo que tudo transforma, mas como uma brisa constante que, aos poucos, limpa a névoa da dor.
É um processo diário, silencioso, muitas vezes invisivel aos olhos de quem observa de tora. Requer tempo, presença e entrega. E preciso reaprender a viver, passo a passo, acolhendo as feridas sem pressa de vê-las desaparecer.
Curar é um ato de coragem. Coragem de tocar na própria dor, de se permitir sentir, sem fugir ou fingir. É também um exercício de delicadeza, porque nem tudo pode ser resolvido com força — há feridas que só se fecham com cuidado e paciência. E, mesmo assim, algumas cicatrizes permanecerão. Mas elas não são sinal de fraqueza: são lembranças sagradas de batalhas vencidas, de noites escuras atravessadas, de quedas que se transformaram em chão firme.
A cura leva tempo, mas cicatriza. E ao contrário do que muitos esperam, não significa esquecer. A memória não se apaga, nem precisa ser apagada. Superar é diferente de apagar. Superar é ressignificar. E poder lembrar sem que a dor nos paralise, é olhar para o passado sem se perder nele. A história continua ali, mas ela não nos comanda mais.
E então, um dia qualquer, você percebe que esta respirando fundo sem peso no peito. Que as lágrimas secaram e deram lugar a novos sorrisos. Que a vida, apesar de tudo, seguiu. E nesse instante sutil, você entende: a cura chegou. Não como um milagre repentino, mas como uma construção silenciosa, diária.
A ferida virou história. E a história virou força.
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