O conceito de dependência química é extremamente novo se comparado ao uso de substâncias psicoativas pela humanidade. Relatos da Antigüidade, como no Egito e Grécia, descrevem padrões de uso nocivo de álcool. O consumo de substâncias psicoativas estava mais integrado ao cotidiano das sociedades, funcionando como alimento, ora como modulador do estresse ambiental. Entre os Incas, o hábito de mascar folhas de coca auxiliava as classes mais baixas a tolerarem a fome e a fadiga. Desse modo, pode-se notar que o consumo de substâncias era pautado fundamentalmente por questões básicas de subsistência. Para estes povos, o uso inescrupuloso de substâncias psicoativas, fora da conjuntura religiosa, festiva ou alimentar, era visto como falha moral, sendo uma afronta aos costumes da época e passivo de alguma punição. A partir de meados do século XX a dependência química começa a ser olhada como uma síndrome, porém, ainda não se consideravam os aspectos psicossociais como os comprometimentos sociais e emocionais dos seus portadores, pois focalizava os aspectos biológicos (delirium tremens e complicações clínicas) e não faziam referência a outros modos problemáticos do consumo. Em 1951, a Organização Mundial da Saúde identificou o alcoolismo como um processo doentio complexo. Antes do fim da década de 60, a maioria das principais organizações de saúde, incluindo a Associação Médica Americana, a Associação Psiquiátrica Americana e a Associação de Saúde Pública Americana, já reconheciam o alcoolismo como doença.