09/05/2024
Algo que ouvimos (e até dizemos) muito, como um conselho bem intencionado. Ao mesmo tempo que vivemos numa sociedade em que tudo que destoa é marginalizado e ostracisado.
Existem muitas pessoas, especialmente minorias sociais, que são criadas com a mensagem que seu jeito de existir é errado e precisa ser corrigido, escondido, modificado, para não destoar. Essa mensagem chega através da mídia, da falta de representação adequada, dos comentários e brincadeiras, das críticas, das micro e macro agressões cotidianas.
Mas algumas características não são disfarçáveis. E mesmo quando são, sempre haverá aquela sensação de falha, de fraude, de despertencimento.
Nós seres humanos precisamos pertencer a grupos sociais e construir comunidade para sobreviver. Então quando algo pode afetar essa nossa capacidade de sobrevivência, imagina o quanto de esforço precisa ser feito pra manejar existir nessa realidade, e o peso que tem ouvir de alguém que basta ser você mesmo pra ser aceito.
Sabi (Sort of), pessoa não binária de apresentação feminina e de família paquistanesa, mostra a angústia e o receio em não ser aceite da sua forma, precisar esconder e modificar sua expressão em certos espaços, vivendo quase uma vida dupla.
Quinni (Heartbreak high), mulher lé***ca e autista, mostra um pouco do desconforto que é pra ela ter que performar normas sociais pela manutenção de amizades, e o quanto ela é julgada por esses amigos quando decide seguir o concelho de "seja você mesma".
A verdade é que muitas pessoas não tem a opção ou a possibilidade de expressar sua identidade de forma segura. Pessoas neurodivergentes, pessoas com deficiência, pessoas negras, pessoas em desconformidade de gênero, pessoas LGBTQIAPN+.
Para esses grupos existir é destoar, ser marginalizado e violentado cotidianamente. Não lhes é permitido o erro, pode inclusive custar caro. E a única forma de "ser você mesmo" é através da tentativa e do erro.
Então, como?
A criação de espaços seguros para esses grupos é a única forma de abrir possibilidade da autodescoberta. E o único jeito de que o "basta ser você mesmo" possa se tornar um bom conselho.