16/08/2021
"O que a Gestalt-Terapeuta faz é emprestar sua sensibilidade para produzir suporte para que, na experiência cocriada, o que não pode ser dito do sofrimento possa aparecer e ser genuinamente ouvido por ambos da relação. Mas o que ouvir? Como ouvir? O que fazer com o que se ouve? É aqui que precisamos ir além dos clichês e dos discursos prontos. Ouvir é um trabalho muito difícil, e desenvolver as condições reais desse processo são fruto de muito trabalho: de estudo teórico para que possamos entender as bases de nosso trabalho e conhecer os fundamentos teóricos e técnicos; prática para exercitar e afinar nossa capacidade de nos colocarmos inteiros em um campo; supervisão para que possamos reconhecer nossas dificuldades e possamos alinhar nossa sensibilidade com as técnicas; e nossa própria psicoterapia, para que possamos aprender a nos ouvir e sermos mais amorosos, pacientes e acolhedores com nossas próprias vicissitudes. Nosso trabalho psicoterapêutico tem a ver com permitir ter compaixão com quem somos e que o sofrimento não é fácil de ser resolvido (se é que se pode resolvê-lo). Assim, podemos exercitar algo fundamental para um clínico, que mesmo que já se tenha dito, é necessário não esquecer: não se pode ter pressa de curar nem se entregar em promessas de felicidades rápidas. Compaixão consigo e com o outro significa não ter pressa, é ser capaz de não se render à lógica da velocidade e da produtividade para cuidar da forma como a situação pede. Mas também, é na nossa psicoterapia que podemos confiar cada vez mais em nossa intuição. Assim, unimos todas as perspectivas: a teoria e a prática nos dão as bases e a técnica; a nossa psicoterapia nos permite desenvolver nossa sensibilidade e intuição, e a supervisão nos ajuda a unir, teoria, técnica, sensibilidade e intuição."
Belmino, M.C. Gestalt terapia e experiencia de campo. 2020
P. 294-295