12/04/2024
Relações derivadas, ou emergentes, são relações não treinadas que emergem a partir das relações treinadas. Por exemplo, se você aprende que o gato é maior que o hamster e que o cachorro é maior que o gato, emerge que o cachorro é maior que o hamster, que o gato é menor que o cachorro, que o hamster é menor que o gato e que o hamster é menor que o cachorro. Isso é uma moldura de comparação. No exemplo, escolher o maior ou o menor animal em um par é o que chamamos de responder relacional. Trata-se de responder a uma relação objetiva, mas podemos aprender a responder a essa relação quando é arbitrária, como quando dizemos que a moeda de 50 centavos é maior que a de 25. Isso chamamos de responder relacional arbitrariamente aplicável. É basicamente esse tipo de resposta a relações que a Teoria das Molduras Relacionais (RFT, na sigla em inglês), uma teoria comportamental da linguagem e da cognição, trata.
Em um dos experimentos da RFT, foram treinadas em um grupo de universitários as seguintes relações entre símbolos arbitrários (que chamaremos aqui de A, B e C, embora os participantes não vissem essas letras) que não signif**avam nada a princípio: B é maior que A e C é maior que B. Como se deve esperar, emergiram os aprendizados de que C é maior que A, A é menor que C, A é menor que B e B é menor que C. Numa etapa seguinte, o estímulo B foi pareado com um choque elétrico de intensidade suficiente para causar desconforto, mas não dor. Por pareamento, o Estímulo B passou a provocar respostas na pele de antecipação à estimulação aversiva, uma mudança na condutividade da pele que podia ser medida e que acompanhava uma certa aflição no sujeito, mesmo que não houvesse mais choque. O mais interessante é que, quando era apresentado o estímulo A, a resposta da pele aparecia em uma intensidade menor, e quando era apresentado o estímulo C, a resposta na pele surgia com uma intensidade ainda maior do que quando era apresentado o estímulo B, o único dos três que foi diretamente pareado com o choque. A partir dessa moldura relacional de comparação, e com o pareamento de um dos elementos dessa moldura a uma estimulação aversiva, há uma transformação de função na qual outro elemento (o estímulo C) adquire uma função não treinada, emergente.
O pulo do gato de Hayes e colaboradores é de que como essas molduras (a metáfora da moldura é que num quadro você pode colocar a figura que quiser dentro de uma moldura) são aprendidas a partir de múltiplos exemplos em que estímulos diferentes têm as mesmas relações (igual a, diferente de, maior que, menor que, dentro de, fora de), o relacionar pode ser ensinado (daí ser um operante), e sendo esse tipo de operante a base da linguagem e da cognição, um treino baseado na teoria poderia ajudar, por exemplo, no desenvolvimento cognitivo de crianças atípicas. Aliás, não só poderia, como isso já foi feito, e vou deixar nos comentários as referências de estudos em que treinos desse tipo foram usados para ensinar a ler crianças que a escola não estava conseguindo ensinar e para aumentar a pontuação no teste de QI de crianças típicas e atípicas.