16/09/2024
Que homem, afinal?
A frase “Você não é homem!” proferida por Pablo Marçal durante o debate com José Luiz Datena, vai além de uma simples provocação.
Ela reflete uma concepção enraizada e problematizável do que signif**a “ser homem” em nossa sociedade.
Mas que tipo de homem Marçal tinha em mente ao fazer essa acusação? Quais os valores e padrões de masculinidade que estão sendo evocados ou, mais ainda, reforçados?
A masculinidade tóxica em debate
O uso da expressão "você não é homem" como forma de ataque ou desqualif**ação implica uma visão estreita da masculinidade, conectada com noções de coragem física, domínio e a disposição para a violência. Essa ideia sugere que o "verdadeiro homem" é aquele que age impulsivamente, que não teme confrontos físicos e que cumpre suas ameaças, mesmo que essas sejam ações agressivas ou destrutivas.
Esse tipo de provocação, comum em discussões acaloradas, apoia-se em um conceito de "masculinidade tóxica", onde o homem é avaliado pela sua capacidade de agir com força e agressividade, muitas vezes de maneira imprudente. Marçal, ao desafiar Datena dizendo que ele “não é homem” por não tê-lo agredido em um debate anterior, está implicitamente colocando este modelo em evidência. Para Marçal ser homem é ser destemido, é ser alguém que cumpre suas ameaças, independente das consequências.
No entanto, essa visão de masculinidade tem sérios problemas. A sociedade contemporânea questiona cada vez mais essa definição de "homem", buscando modelos de masculinidade que não se baseiam na violência ou na necessidade de provar força a todo momento.
Ser homem, para muitos, pode signif**ar assumir responsabilidades, ter autocontrole e agir com empatia e respeito pelo outro. O modelo que Marçal propôs ao desafiar Datena vai na contramão dessa evolução civilizatória.
Que tipo de 'homem' quer Marçal?
A pergunta que f**a é: que tipo de homem quer Marçal? Quando ele coloca Datena à prova, usando o "não ser homem" como um insulto, ele está pedindo uma reafirmação de velhos paradigmas de masculinidade.
Mas será que esse é o tipo de homem que a sociedade precisa?
A masculinidade baseada no controle emocional e na capacidade de dialogar tem ganhado mais espaço. No entanto, quando figuras públicas em situações de alta visibilidade, como debates políticos, evocam o homem como alguém que precisa demonstrar sua masculinidade por meio da força, perpetua-se um modelo ultrapassado e prejudicial.
A pergunta que f**a é: que tipo de homem quer Marçal? Quando ele coloca Datena à prova, usando o "não ser homem" como um insulto, ele está pedindo uma reafirmação de velhos paradigmas de masculinidade.
Mas será que esse é o tipo de homem que a sociedade precisa?
A masculinidade baseada no controle emocional e na capacidade de dialogar tem ganhado mais espaço. No entanto, quando figuras públicas em situações de alta visibilidade, como debates políticos, evocam o homem como alguém que precisa demonstrar sua masculinidade por meio da força, perpetua-se um modelo ultrapassado e prejudicial.
Esse modelo, no qual ser homem é provar-se fisicamente, não leva em conta o que muitos consideram os verdadeiros valores que deveriam definir qualquer ser humano: integridade, respeito e inteligência emocional.
A provocação e a resposta
Curiosamente, a provocação de Marçal surtiu o efeito que ele parecia esperar: Datena reagiu com violência, arremessando uma cadeira e confirmando que as emoções e a pressão podem, sim, levar a atos impulsivos. No entanto, essa reação de Datena não legitima a ideia de que ele, ao explodir, finalmente "foi homem".
Pelo contrário, a explosão de violência revelou a fragilidade emocional em momentos de estresse — uma característica que, paradoxalmente, desafia o próprio estereótipo do homem forte e inabalável.
Essa dinâmica entre provocação e resposta evidencia que o entendimento de masculinidade que Marçal invocou é um tanto destrutivo, pois incentiva comportamentos impulsivos e agressivos, em vez de promover o diálogo e a resolução de conflitos de maneira civilizada.
Marçal diz que Datena ‘não é homem’, porém, quando Datena comporta-se dentro do modelo esperado por Marçal, este último chama o primeiro de “sem inteligência emocional”.
Repensando a masculinidade
O episódio nos leva a uma reflexão maior: o que queremos, afinal, para as futuras gerações de homens?
Continuar reforçando o ideal de masculinidade baseado na violência e no "agir sem pensar" nos afasta de construir uma sociedade mais equilibrada e pacíf**a. A provocação de Marçal expôs um pensamento antiquado, que resiste à transformação de gênero pela qual estamos passando.
A verdadeira força de caráter, seja de um homem ou de qualquer pessoa, não está em sua capacidade de recorrer à violência, mas em sua habilidade de conter impulsos destrutivos e agir de forma madura, ética e responsável.
Que tipo de homem queremos em nossa sociedade?
Com certeza, não o que precisa provar sua masculinidade com atos de invocação da violência ou daqueles que recorrem à violência como autoafirmação.
No final, a pergunta permanece: que tipo de homem Marçal quer?
Mais importante ainda, que tipo de Homem todos nós queremos ser ou ter por perto?
E você, o que achou disto? Estou curioso para saber sua opinião.
Antonio Fernando Vieira Garcia
Psicólogo - Sexólogo
CRP 08/26209