26/06/2025
Freud já nos alertava, a ambição do analista, seja educativa ou terapêutica, tem pouca utilidade e pode até atrapalhar o processo, o trabalho da análise.
Ocupar o lugar do analista não é fácil. E para isso a formação deve ser constante, especialmente no divã, na nossa análise, que é onde esvaziamos nosso narcisismo para não querer curar o outro em busca de reconhecimento ou recompensa. Claro, que é um trabalho, um ofício, que tem o pagamento como necessário meio de sobrevivência do analista mas também como forma de regular a relação analista-analisando.
Um analista trabalha o seu Desejo de analisar. Desejo de desejo, desejo de movimentar o analisando em seu próprio desejo, em seu próprio movimento de vida.
Querer curar ou educar o sujeito atrapalha o processo analítico porque atropela o sujeito, dá respostas ou soluções onde o próprio sujeito precisa construir suas respostas dentro das possibilidades de recursos psíquicos que ele tenha ou desenvolva ali em análise.
No início, algumas análises que conduzi, cometi esses erros. Querer curar faz parte da formação de psicólogo. Por isso, ao longo dos anos, percebo cada vez mais a distância que há entre psicologia e psicanálise. E percebo que há momentos na vida que um analista, que também é gente, pode estar em situações em que é levado a querer melhorar a vida do outro por não estar conseguindo sair do lugar em sua análise. Por isso, estar advertido a cada sessão, a cada análise em andamento é imprescindível para não escorregar desse lugar tão difícil de sustentar, enquanto ainda estamos em formação...
Freud escreveu essa frase em 1912 no texto Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise.
Estejamos sempre atentos, porque não é um ofício fácil, sustentar o lugar do vazio causa de desejo não acontece de uma hora para outra, nem só porque queremos, exige muito trabalho psíquico para sair do foco do nosso próprio narcisismo, já que nós amamos mais a nós mesmos e querer reconhecimento está muito longe do Des-ser Analista.
🖊️Anne Peres