23/06/2021
Era uma vez um procedimento que foi introduzido na obstetrícia sem nenhuma evidência científica. Rapidamente ele se tornou rotina, mesmo sem nenhum dado que mostrasse que cortar períneos trouxesse benefício ou prevenisse problemas. Simplesmente porque para alguns fazia sentido ampliar a passagem. O procedimento se espalhou como pólvora, baseado em opiniões e achismos e logo tomou o mundo. Para parir, era necessário cortar.
Uns talvez argumentassem que, naquela época, não se fazia tantos estudos e a chamada "Obstetrícia Baseada em Evidências" nem tinha nascido. Apesar de em outra perspectiva, diferente da atual, a verdade é que havia estudos sim. Muitas coisas que se usa na área da saúde ainda hoje foram estudadas nesse período. Mas os períneos, coitados, não foram dignos dessa atenção.
Fato é que esse procedimento continuou por aí, firme e forte e quase todos passaram a acreditar que parto tinha que ser com ele.
No início da déc. de 80 do séc. 20, no entanto, dois valorosos pesquisadores se debruçaram na busca de estudos sobre o procedimento. E qual não foi sua surpresa ao descobrir que durante mais um século ele foi sistematicamente utilizado sem que se tivesse produzido nenhuma evidência de benefício! Ou seja, não tinha antes e ninguém conseguiu provar nem após mais de um século de uso.
Mais anos se passaram, os profissionais continuaram cortando períneos mas, num dado momento, uma convergência de fatores levou o mundo a perguntar: "Será que devemos seguir cortando?". A pergunta era pertinente e muitos se debruçaram a estudar. Estudos foram publicados mostrando que era preciso reduzir os cortes, que o uso de rotina causava muito mal e não trazia nenhum bem. Outros tentaram provar as indicações que os profissionais afirmavam para cortar e não conseguiram.
Mas sabe o que a maioria esqueceu? Que, lá no começo dessa história, nunca se provou que QUALQUER corte era necessário. Estudos seletiva vs. de rotina deixam de lado a questão principal: nunca se provou que nenhuma episiotomia deveria ser cortada. Nenhuminha tem evidência. E há um lema na prática baseada em evidências: só se deve fazer uma intervenção após prova de seu benefício. Aguardo provas sentada.