17/05/2025
ÓLEOS ESSENCIAIS COM O TEMPO DE USO ACUMULAM RESINAS DENTRO DO CORPO? MITO OU REALIDADE?
Obs.: Este artigo é nosso posicionamento a dúvidas frequentes que temos recebido de alunos de aromaterapia do IBRA nos últimos meses sobre óleos essenciais acumularem resinas oxidadas dentro do nosso corpo.
Desconhecemos a origem deste tipo de informação ou se algo com relação ao tema foi distorcido e vem circulando de forma equivocada (já que muitas vezes algo corretamente falado passa por dez pessoas diferentes e no final vira outra coisa contrária ao que o autor quis dizer). Desta forma, em defesa à aromaterapia, aromatologia, perfumaria, aos óleos essenciais e à espagiria, sentimo-nos na obrigação de escrever este texto com nosso posicionamento enquanto escola e pesquisadores da área de óleos essenciais há mais de 20 anos, pois todas estas especialidades destilam e utilizam os óleos essenciais amplamente. Estudamos e refletimos muito sobre esta dúvida insistente dos alunos para trazer a melhor resposta possível ao nosso alcance dentro do conhecimento técnico que temos.
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Existe a disseminação de que a ingestão de óleos essenciais seria perigosa por que os óleos essenciais deixariam dentro de nosso corpo resinas acumuladas. Este tipo de informação equivocada surgiu à partir da observação de uma reação química durante a retif**ação de óleos essenciais em laboratório. A retif**ação é uma prática comum na indústria de óleos essenciais, feita com a intenção de melhorar a sua qualidade e taxa de princípios ativos. Óleos como o eucalipto globulus 80/85 (teor de cineol) e lavanda 40/42 (teor de ésteres) são exemplos.
Existem duas formas de se retif**ar um óleo essencial. Enquanto na indústria se usa aparelhos de destilação fracionada com controle de temperatura ou vácuo para realizar este processo, na espagiria (área da alquimia) para fazer uma quintaessência, uma das etapas envolve também a retif**ação (purif**ação) do óleo essencial de moléculas de fácil oxidação. Para este processo de retif**ação, certo óleo essencial, já previamente destilado, é colocado junto da água de chuva dentro de uma curcubita de vidro.
Esta curcubita então é deixada por vários dias em contato com a temperatura contínua de 40ºC para induzir a oxidação das moléculas mais degradantes do óleo e ev***ração total do óleo estável sobrante com a água para coleta em outro frasco. Este processo pode ser repetido algumas vezes, com indução repetitiva da oxidação do óleo essencial para a máxima eliminação de compostos instáveis. Todas as vezes sobra no frasco, após a ev***ração, um material resinoso composto por moléculas de óleos essenciais que se oxidaram e deram origem a radicais livres.
Esta oxidação só é induzida por que temos o óleo em temperatura constante de 40ºC em contato com água, (às vezes luz) e ar. Se o mesmo óleo essencial for redestilado a 100ºC por 1 a 2 horas, ele não deixa para traz resinas oxidadas, e isso é sabido por todos aqueles que destilam plantas aromáticas e óleos essenciais na indústria ou fazendas, pois a temperatura média do v***r de água no destilador é de 100ºC.
Então, é a forma de se realizar o processo que faz a diferença e por esta razão, às vezes num difusor de ambientes se tem resquícios de material resinoso oxidado deixado pra trás, pois a temperatura destes aparelhos elétricos é de cerca de 50ºC e o óleo é adicionado a água e tem contato com o ar para ev***ração por período prolongado, o que favorece oxidação rápida.
Se usarmos a mesma metodologia com o aquecimento contínuo a 40ºC com água no frasco, só que ao invés de usarmos óleos essenciais, empregarmos óleo graxo (girassol, milho ou arroz por exemplo), induziremos igualmente a oxidação dos ácidos graxos e a formação de um material gorduroso grudento e às vezes até resinoso. Estes são peróxidos lipídicos, radicais livres advindos da oxidação de ácidos graxos que são extremamente cancerígenos e prejudiciais.
Em milhares de estudos realizados com animais (ratos, galinhas, porcos etc) que, após a ingestão, inalação e absorção dérmica de óleos essenciais, foram sacrif**ados para exames pós-morte do cadáver em estudos científicos em faculdades, nenhum cientista nunca encontrou um organismo repleto por dentro de resinas oxidadas advindas de óleos essenciais (diga-se de nota que não somos a favor e nem realizamos te**es com animais, estamos apenas citando).
Esta informação de f**ar resina colada dentro do corpo é improcedente e alarmista, e pode ser checada em artigos publicados em jornais e revistas conceituadas disponíveis no pubmed.com, capes ou sciencedirect.com onde não se verá fotografias de tecidos e órgãos de animais com estas características.
Igualmente nunca se abriu qualquer animal que fosse, após a ingestão prolongada de ácidos graxos, e se encontrou resinas ou colas derivadas da oxidação destas moléculas. Se fosse assim, deveria ser imperiosamente proibido ingerir frituras, óleos graxos e elementos preparados com eles ou seus ácidos graxos. Vale destacar que a membrana celular tem uma camada lipídica composta por fosfolipídeos que contém dois ácidos graxos presos a uma cabeça polar rica em fósforo e glicerol. Depois de água, a segunda coisa que nós mais temos no corpo é óleo (ácidos graxos).
Vamos considerar nosso alimento. Nenhum banquete, nenhuma boa refeição é possível sem as ervas aromáticas, que dão sabor aos pratos. Através da longa história da arte culinária, encontramos condimentos e especiarias. Quase todas contém óleos essenciais, que são liberados durante o cozimento. O perfume de frutas, verduras e legumes é óleo essencial. Então, se a ingestão deste óleo essencial fosse prejudicialmente acumulativa, ao chegarmos aos 50, 60 ou 70 anos de idade estaríamos repletos de resinas dentro do corpo.
Desconhece-se cadáveres humanos que foram examinados ou seres humanos abertos em cirurgias em hospitais, com intestinos, músculos, fáscia ou órgãos internos com resinas de moléculas aromáticas advindas dos alimentos.
Quando a alma tenta se reconectar aos grandes princípios espirituais, lá estão os perfumes. O aroma do incenso e das rosas enche os templos e igrejas de todas as religiões pelo mundo. Nuvens de perfume envolviam a Pitonisa de Delfos quando ela fazia as previsões sobre o futuro e ajudava a alma cristã a encontrar mais facilmente os planos espirituais.
O amor profano apela às essências em seu auxílio. Nenhuma poção de amor deixou de conter óleos essenciais. Esther literalmente se embebeu em aromas. Os cabelos de Cleópatra cheiravam a mirra e nenhuma mulher, em qualquer período da história, deixou de lançar mão de fragrâncias para reforçar sua beleza antes de ir ao encontro de seu amado.
A pele possui alta capacidade de absorção de óleos essenciais, assim como o trato respiratório. Se óleos essenciais deixassem resinas dentro do corpo após sua penetração via oral, deveria ser proibido também sua inalação e aplicação na pele, pois ele penetraria por estas vias ocasionando o mesmo tipo de problema.
Não se pode querer comparar as reações que acontecem dentro de uma curcubita de destilação, mesmo que numa temperatura próxima da digestão humana (40ºC), com àquelas que acontecem dentro de um organismo vivo. A curcúbita de vidro de destilação não possui células vivas, que possuem em seu interior enzimas capazes de metabolizar e desintegrar moléculas de óleos essenciais, taninos, alcalóides, flavonóides, resinas e diferentes outros tipos de matérias.
Em um destilador onde só temos água de chuva e óleo essencial, nós não temos enzimas atuando no processo de retif**ação. Desta forma, a oxidação induzida no óleo essencial numa retif**ação, e que forma radicais livres que se depositam na forma de resinas, não acontece da mesma forma dentro de um organismo vivo. E tais resinas só são acumuladas na curcubita, por que não existem enzimas celulares capazes de destruir estes radicais livres à medida que se formam.
Dentro de um corpo vivo, os estudos provaram que as moléculas aromáticas são completamente metabolizadas num espaço de tempo de 24 até 72 horas, e tal processo acontece de forma muito bela e plena de maestria, especif**amente dentro do retículo endoplasmático no interior das células, através da ação de enzimas que fazem parte de uma grande família com mais de 7mil sequências diferentes, a do citocromo P450.
O processo dentro do corpo acontece da seguinte forma:
Vamos supor que estamos falando do d-limoneno, uma molécula majoritária no óleo essencial de laranja que na retif**ação dentro de uma curcubita com água, gera muitos óxidos (radicais livres) que sobram na forma de resina.
Esta molécula vinda de um óleo intacto, caindo na circulação sanguínea, chega à membrana celular podendo ser absorvida ou não. O limoneno pode, na superfície das células, ativar receptores responsáveis por mandar moléculas mensageiras até o núcleo, ou ele pode atravessar a membrana e estimular diretamente o retículo endoplasmático a gerar moléculas mensageiras que migram ao núcleo. Ali, estas moléculas estimuladas levam o DNA a produzir um RNA mensageiro que é transportado de volta ao retículo endoplasmático para a criação de uma proteína, na maioria das vezes uma enzima.
Este RNA mensageiro (mRNA) contém em sua estrutura toda a informação ditada pelo DNA para a síntese de uma molécula específ**a. No caso do limoneno, ele irá induzir à formação de enzimas do grupo da glutationa, um dos principais antioxidantes celulares (por isso o limoneno é hepatoprotetor quando ingerido), e estimulará a formação e aumento da atividade de enzimas do citocromo P450. O citocromo P450 é o grupo de enzimas mais importantes no metabolismo de substâncias químicas dentro das células.
O fígado é o órgão mais rico em citocromo P450, motivo do mesmo ser o principal órgão de depuração de nosso corpo. A glutationa anteriormente citada, é o principal elemento responsável por processos regenerativos, anti-envelhecimento, cura do corpo, assim como proteção contra a ação de radicais-livres.
Após acionar todas estas cascatas de reação, o limoneno que induziu aumento na produção do citocromo, passará a ser metabolizado por ele. O citocromo quebra o limoneno em uma molécula mais simples e água, e para neutralizar este metabólito o corpo usa um ácido orgânico, o ácido glicurônico, unindo-o a este metabólito e gerando um glicuronídeo de limoneno.
Então, o glicuronídeo de limoneno poderá ser facilmente eliminado pelas vias urinárias, por ser hidrossolúvel, coisa que o limoneno não é, e, portanto, não poderia ser eliminado pela urina na forma lipossolúvel. O mesmo acontecerá de forma muito similar e individualizada com cada molécula diferente de óleo essencial e eu poderia citar aqui dezenas de exemplos.
Pergunto, como algo tão complexo aconteceria numa curcubita de vidro de destilação? Impossível! Precisaria de células vivas nela.
Nosso corpo foi criado dotado de meios para se defender de toxinas, metabolizar inúmeras substâncias e manter-se estável e saudável. Este tipo de informação de que óleos essenciais deixam o corpo cheio de resinas após absorvido, é fruto de uma total falta de conhecimento farmacológico, fisiológico e metabólico de como substâncias entram, são modif**adas e eliminadas para fora de nosso corpo.
Antes de afirmar algo, é importante estudar para não incorrer no erro de propagar informações distorcidas que geram medo, incertezas e aplicações erradas pelas pessoas. Sugiro a leitura de livros de farmacocinética como um ponto de partida para um bom aprendizado sobre o tema.
Ainda vale concluir comentando que muitas informações disseminadas contra óleos essenciais, homeopatia, florais e fitoterápicos, envolvem interesses mercantilistas, principalmente da parte de grandes laboratórios ou entidades com interesses financeiros comerciais próprios. Afinal, doença gera lucros. Quem estuda farmacologia ou medicina, sabe muito bem dos danos que a maioria dos medicamentos alopáticos ocasionam ao corpo.
Os danos hepáticos do paracetamol, as reações alérgicas da dipirona, os danos neuronais e musculares das estatinas, ou os danos renais e hepáticos do diclofenaco de sódio, por exemplo. É interessante notar que uma coisa natural e tão próxima na nossa vida, como os óleos essenciais, que ingerimos diariamente em quase todas as refeições (são o aroma da nossa comida, das ervas, frutas, verduras e legumes), sejam condenados como uma coisa tão maligna e prejudicial frente a substâncias sintéticas, medicamentos, refrigerantes, alimentos processados e refinados, adoçantes, edulcorantes, conservantes, etc.
Recentemente muitos estudos têm demonstrado que nosso corpo possui receptores olfativos químicos para moléculas aromáticas em inúmeros tecidos. Nossa pele, pulmão, coração, neurônios, rins, todos sentem cheiros. E respondem a eles. Se os aromas fossem algo tão negativo, por que nosso corpo teria receptores para sentir eles em todas as suas células? E por que destinaríamos um espaço de 3% em nossos genes unicamente para o sentido do olfato?
Claro, que a diferença entre o veneno e o remédio está na sua dosagem, e é claro que um emprego responsável, com conhecimento coerente de óleos essenciais, assim como nutrientes ou fitoterápicos em geral, só trazem o bem. O uso indiscriminado e abusivo de qualquer coisa, pelo contrário, prejudica mais do que ajuda. Então neste ponto sensatez é importante. Não estamos discutindo irresponsabilidades práticas.
Há de se considerar que variados estudos genéticos tem demonstrado a capacidade de vitaminas, nutrientes os mais diversos, e até medicamentos, de atuarem modulando a atividade de genes de forma epigenética. As moléculas aromáticas dos óleos essenciais fazem o mesmo, e em sua maior totalidade até onde pudemos descobrir, para melhor.
Talvez por que sejam elementos com os quais estejamos convivendo há milhões de anos da evolução da Terra, em meio às florestas (inalando-os pelo ar, o suor aromático das árvores), ou ingerindo-os pelos alimentos, este antigo convívio seja a razão do por que nos façam tão bem. De maneira diferente, substâncias químicas sintéticas nem sempre ativam de forma epigenética nossos genes de maneira positiva, pois são estruturas incomuns e “alienígenas” ao nosso corpo. E a alteração prejudicial epigenética que certos medicamentos, alimentos processados e elementos sintéticos atualmente postos para dentro, só poderá ser evidenciada dentro de algumas gerações.
Ao meu ver, o vilão é outro, não as plantas aromáticas e seus óleos essenciais. Esteja atento.
Por: Fábián László
Cientista aromatólogo
LASZLO
O Essencial em sua Vida.
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