27/02/2019
Os Tarôs de Marselha
Existem muitos baralhos de Tarot de Marselha disponíveis no mercado. Eis algumas informações pra você escolher o seu com discernimento.
Surgidos provavelmente no norte da Itália, os baralhos eram originalmente produzidos por artesãos locais, e ganhavam dessa forma o nome do seu produtor. Um dos mais famosos e citados até hoje é Nicolas Conver. Os desenhos das cartas mantiveram a coesão simbólica ao longo do tempo e apesar da dispersão geográfica. Vieram a se fixar em Marselha vários fabricantes desses baralhos, acabando por tornar a cidade uma referência ao padrão. Antes da expansão das prensas mecânicas, os baralhos eram totalmente manufaturados e pintados carta a carta, e a variação de cores era maior do que quando passaram a ser produzidos mecanicamente – o que reduziu o espectro a 4 cores, azul, vermelho, verde e amarelo, além do preto e da cor de fundo.
Atualmente existem muitas edições de baralhos que ainda reproduzem esse esquema de cores. Um exemplo é o do Nei Naiff, da editora Alfabeto. Em formato grande, ele tem uma impressão bonita, mas de difícil manuseio. Alguns detalhes depõe contra: por exemplo, é totalmente desnecessária a inserção da palavra “MORTE” no arcano XIII, o famoso arcano sem nome, que tem sua contrapartida no arcano sem número, O LOUCO.
Mas existem edições ainda mais rústicas. O Tarot fabricado por Jean Payen e replicado no livro “Tarô, a História e a Magia”, de Igor Pedrosa, tem um desenho mais simplificado e um esquema de cores em alto contraste que praticamente substitui o azul por preto. A edição, no entanto, não deixa de ser charmosa justamente pela simplicidade essencial dos símbolos e de um jeitão meio naive. Na versão do livro citado, o tamanho das cartas é excelente para manipulação e o dorso é um lindo padrão em vermelho.
Já na versão editada pela Pensamento com o título acrescido de “Antigo Tarot de Marselha”, o esquema corresponde ao padrão de 4 cores + preto, porém a cor de fundo é um bege/creme que afeta muito a percepção das cores e dos próprios símbolos. Apesar de completa e de ter um bom tamanho para manuseio, não recomendo a quem quiser mergulhar nos detalhes da iconografia.
Um fenômeno relativamente recente, creio eu, foi o da restauração do Tarot de Marselha a um ancestral da linhagem que teoricamente continha não somente mais cores em seu leque, mas também detalhes nas cartas que foram modificados ou adulterados ao longo dos séculos.
Dessa leva, o mais disseminado há de ser a versão restaurada através do incrível encontro de Alejandro Jodorowsky com Philippe Camoin, herdeiro justamente da casa editorial que se originou com Nicolas Conver. Jodorowsky aportou sua experiência de pesquisador e artista, e Camoin, recursos e conhecimento técnico, além de toda uma vida sob a influência do Tarot em sua família. O resultado é um baralho belíssimo, riquíssimo em detalhes e com um esquema de 11 cores que abrange todas as cores do espectro tradicional com variações de intensidade além da adição da cor de carne, representando o domínio humano, e o roxo – cor da quintessência. Todos os símbolos tradicionais foram preservados e acrescidos de detalhes que enriquecem muito o mergulho no universo gráfico das cartas. É o baralho que uso para os atendimentos profissionais e muito tem me inspirado desde que o adquiri.
2 outros exemplares são dignos de nota: o CBD (Conver-Ben-Dov), restaurado pelo pesquisador Yoav Ben-Dov (por sinal um antigo aluno do Jodorowsky) e a “Millenium Edition” de Wilfried Hodouin. O primeiro é uma edição excelente, pelo menos em termos virtuais – tenho o aplicativo criado para esse deque, com o baralho completo. A restauração segue muito a linha do que foi feito por Jodorowsky/Camoin, com algumas tantas diferenças, mas nenhum desabono. Já a restauração de Hodouin, autor do livro “O Código Sagrado do Tarot”, é bastante bonita e sua pesquisa vinculando o Tarot à Geometria Sagrada é bem profunda e interessante, porém o deque tem pelo menos uma esquisitice mal explicada: o arcano número XIII é virado para a esquerda (de quem vê), invertendo a direção tradicional da carta, que passa a “olhar” para o passado.
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