17/09/2024
A cultura da virilidade é a cultura da competição de quem é o mais forte, o mais másculo, o mais virtuoso. Não há intenção alguma cooperação — seja na esfera política, seja em outra profissão ou na família —, o propósito é sentir-se poderoso e expor esse poder. O gozo está no reconhecimento desse poder.
A cultura da lacração é uma continuidade, uma consequência de uma sociedade capturada por esses valores patriarcais, no sentido de que também é sobre competir, ridicularizar alguém para se sentir melhor, se expor, ofender, tentar chocar o mundo — porém, não para gerar uma reflexão, uma ampliação de ideias —, mas tão somente com o intuito de ter seguidores, admiradores, fãs… A qualquer custo.
De um lado da briga, o Datena, cujo nome já quase é, por si só, um adjetivo, por ser um homem que sempre espetacularizou a violência, fazendo sensacionalismo e propagando valores patriarcais com o intuito, além de lucrar, é claro, de se colocar acima dos reles mortais que ele exibia em seu programa televisivo, que quem tem algum respeito pelo jornalismo jamais chamará de jornal.
Do outro lado, um coach, que enriqueceu com seus vídeos vendendo mentiras mas que, assim como o seu colega, tinha objetivos para além do dinheiro: ser endeusado. Não é preciso ser psicanalista para perceber o prazer que Marçal tem ao ouvir a própria voz, pouco importando o conteúdo, muito menos os danos que ele venha causar, seja aos outros, seja a si mesmo.
E entre eles: uma cadeira.
É, chega a ser caricato esse encontro — atravessado por uma cadeirada — do perfeito exemplar do antigo patriarca com a versão atualizada 2024… Nos remete a uma briga de pai e filho, daquelas que quem está de fora percebe que eles não se dão conta de quão parecidos são. Para azar de ambos.