08/07/2025
*CARTA ABERTA DA COMUNIDADE POETA COLIBRI ENDEREÇADA AO:*
- *Prefeito de Morrinhos* - Jerônimo Brandão
- *Prefeito de Santana do Acaraú* - Francisco das Chagas
- *Secretário de Segurança Pública do Ceará* - Roberto Alzir Dias Chaves
- *Governador do Ceará* - Elmano de Freitas
- *Judiciário Cearense*
Nós somos a Comunidade Poeta Colibri. Somos 52 famílias localizadas num pequeno município do Ceará conhecido pelo nome de Morrinhos.
Somos mães, pais e crianças, trabalhadores e trabalhadoras da terra. Famílias camponesas simples, tão simples como é uma de nossas principais contribuições sociais: produzir a comida que chega à mesa dos brasileiros, inclusive a dos senhores. Sim, o alimento que abastece seus filhos e filhas é produzido por nossas mãos e pelas mãos de milhões de trabalhadores desse vasto país. Muitos, ainda sem um palmo de chão para cultivar.
A Poeta Colibri surgiu em setembro de 2024, quando ocupamos a fazenda Cruz, um latifúndio que NÃO CUMPRIA NENHUMA FUNÇÃO SOCIAL há mais de 20 anos, como bem conhecem as pessoas da região.
Mas a Poeta Colibri já morava em nós bem antes disso. Ela ocupou nossos corpos e alma no dia em que nossos antepassados foram expulsos de seus territórios. A Poeta Colibri nasceu com a necessidade, geração após geração, de voltarmos às nossas origens e podermos aqui, enfim vivermos com a dignidade que todo ser humano merece. É verdade: suas crianças têm direito à vida, mas as nossas também.
Em menos de um ano, sem água encanada, sem energia elétrica, e com trabalho totalmente voluntário e coletivo, reformamos estradas, cercas, açude, construímos moradias e plantamos e colhemos uma infinidade de alimentos. A vida humana finalmente se faz presente no local onde antes só se cultivava especulação e opressão.
Na nossa terra, iniciamos uma linda e fundamental transformação buscando a produção de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos. Até por isso, estamos participando do Plebiscito Popular contra a pulverização aérea de agrotóxicos por drones.
Se duvidam, venham nos fazer uma visita! Serão muito bem recebidos. Venham comer de nosso feijão, de nosso jerimum, de nossa canjica. Tudo plantado aqui! Venham sentir a alegria de nossas crianças, sentimento que contagiou a todos desde o primeiro dia, apesar da enorme perseguição que estamos sofrendo.
A Constituição Federal diz que temos direito a essa terra. Agora sabemos! Ainda assim, um juiz, o senhor Gustavo Ferreira Mainardes, cuja responsabilidade em julgar o caso é questionada até pelo Ministério Público, insiste em querer nos despejar. Mesmo sabendo do abandono anterior da terra, mesmo tendo ciência de que a documentação apresentada pelo latifundiário foi comprovada insuficiente. Não conseguimos compreender como pode haver justiça se a autoridade que julga só escuta um lado da história.
Acreditem: o senhor Mainardes perguntou por mais de uma vez ao latifundiário se era para despejar ou não a gente da terra. Consultou e determinou, como uma ordem suprema, a vontade de quem se diz proprietário, o senhor Zezinho Albuquerque, deputado estadual e secretário de governo. Isso causou na gente e em quem acompanha nossa luta verdadeiro espanto e indignação. E nós, quando seremos ouvidos?
Além desse flagrante, não esqueçamos que quando uma comunidade camponesa é despejada de seu território, a fome se instaura, as desigualdade e os problemas sociais se aprofundam, e as mesas de quem come se enchem do veneno do agronegócio.
Vamos ser diretos: Estão querendo fazer com a gente o que fazem com o povo palestino! Pretendem arrancar nossas raízes. Mas aqui estamos, para resistir até o final. E não estamos sozinhas. São inúmeras as mensagens de apoio que recebemos diariamente.
Reforçamos o convite para que o juiz responsável venha nos visitar e conhecer a realidade de perto, antes de qualquer julgamento. Que disponha o tempo que for preciso para que a Comissão de Resoluções de Conflitos Fundiários possa realizar seu trabalho, seu levantamento técnico.
Para terminar, nós, famílias da Comunidade Poeta Colibri, ficamos sabendo de uma trama, arquitetada por pessoas ligadas ao latifundiário, para assassinar lideranças da Organização Popular. Queremos deixar claro que sabemos quem são, seus nomes e onde moram.
Qualquer mal cometido contra qualquer um ou qualquer uma de nós será de inteira responsabilidade das autoridades que, cientes da situação, ou lavam as mãos na pia da omissão ou ordenam diretamente a prática das mais vergonhosas injustiças.
Da nossa parte, seguiremos em luta para que a justiça seja feita.
Morrinhos, 7 de julho de 2025.