24/08/2025
Quando a dor emocional tem endereço: o peso invisível da violência nas relações afetivas
Atendo diariamente mulheres e também homens com sintomas de depressão, ansiedade, insônia, crises de pânico ou baixa autoestima. Muitos chegam em busca de medicação ou respostas para um mal-estar que não sabem nomear. O que poucos percebem, no início, é que a origem do sofrimento pode estar dentro de casa: no próprio relacionamento afetivo.
A violência doméstica nem sempre deixa marcas visíveis. Às vezes, ela se disfarça de cuidado, de proteção, de dependência emocional. Acontece em silêncios, em críticas constantes, chantagens sutis, controle excessivo e isolamento. E, quando se prolonga, mina a identidade e a autoestima.
Um retrato muito sensível e fiel desse processo está na série espanhola “Ângela”, que recomendo fortemente. A protagonista vive uma vida aparentemente perfeita, mas vai, aos poucos, percebendo que está presa em uma relação marcada por manipulação e violência emocional. A série mostra, com sensibilidade, como é difícil identificar o abuso quando ele é psicológico e como a consciência desse ciclo pode ser o primeiro passo para a libertação.
Muitas pacientes que atendo passam exatamente por isso. E o mesmo vale para homens em relações abusivas, com parceiras ou parceiros que os fragilizam, os controlam e os fazem duvidar de si mesmos.
Como psiquiatra, meu papel vai além de prescrever medicação. É também ajudar o paciente a reconectar-se com sua percepção da realidade, recuperar sua força interna e reconhecer que aquilo que adoece pode, sim, ter nome: violência psicológica.