28/02/2024
O MÉDICO
O médico é o profissional que chamamos para que confirme o diagnóstico que previamente nós mesmos já fizemos.
Se a opinião dele coincide com a nossa, nos perguntamos porque o chamamos; se não coincide, duvidamos do seu valor.
Se nos receita algum remédio, pensamos que é melhor que o organismo se defenda sozinho. Se não nos receita nada, pensamos como é que vamos nos curar da doença.
Quando nos curamos, ficamos orgulhosos da nossa própria natureza.
Quando pioram nossos sintomas, amaldiçoamos a torpeza do médico.
Se o médico é jovem, dizemos que não pode ter experiência. Se é velho, que não deve estar atualizado.
Se sabemos que vai ao teatro, é porque não dedica tempo para estudar. Se não sabe nada sobre o teatro, trata-se de uma pessoa limitada que desconhece a vida.
Se se veste bem, é porque quer nosso dinheiro para luxos. Se se veste mal, é porque não ganha bem por não saber nada.
Se nos visita várias vezes, pensamos que o faz por querer aumentar seus honorários. Se nos visita pouco, é porque abandona o doente.
Se nos explica o que temos, é porque quer nos sugestionar. Se não nos explica, é porque não nos considera suficientemente inteligentes para entende-lo.
Se nos atende prontamente no consultório, pensamos que ele não tem pacientes. Se nos faz esperar, que não tem método, nem organização.
Se nos dá o diagnóstico de imediato, achamos que nosso caso é fácil. Se demora em fazê-lo, é porque carece de olho clínico.
Em síntese, o médico é o o pretexto máximo do nosso próprio descontentamento com tudo.
Essas reflexões sobre o médico foram escritas há mais de 50 anos por Florêncio Escardó,
Pseudônimo Piolín de Macramé.
Ele nasceu em Mendoza, Argentina em 13 de agosto de 1904, e foi um destacado pediatra e sanitarista.
Egresso da Faculdade de Medicina de Buenos Aires em 1929, foi vice-reitor da Universidade de Buenos Aires.