05/06/2025
Leo Lins foi condenado por disseminar discursos preconceituosos em seu show Perturbador (2022). As piadas, segundo a justiça, estimulam a violência simbólica e a intolerância social.
A juíza federal Bárbara de Lima Iseppi foi clara: “A liberdade de expressão não é absoluta. Quando colide com a dignidade da pessoa humana e a igualdade, esses princípios devem prevalecer.”
Há diferença sim entre fazer piada com o opressor e fazer piada com o oprimido.
A ideia de que "tudo pode ser humor" é uma armadilha cínica. Tudo pode — mas nem tudo deve. E mais: quem está rindo? Quem é o alvo? Quem lucra com esse riso?
O humor, como qualquer discurso, atua simbolicamente. Influenciadores e comediantes ocupam posições discursivas de autoridade — e isso molda o que a sociedade aceita como risível, aceitável ou desprezível. O efeito da piada não se restringe ao palco. Ela reverbera. E neste ponto, o humorista paradoxalmente obteve sucesso: o perturbador peturbou.
Agora cabe a ele sustentar. Não se trata de gosto. Trata-se de estrutura. Fazer humor com os sistemas de opressão pode ser resistência. Fazer humor com vítimas perpetua a opressão. E isso é uma escolha — quer admitam ou não.
A arte não é um passe livre para o gozo cruel. Pode (e deve) incomodar, mas quando serve à desumanização, torna-se arma. A pergunta é: rir de quem está no chão é arte? Ou é apenas sadismo travestido de ironia?
Em tempos de deepfakes, linchamentos virtuais e cultura de exposição, até a sátira exige contexto. Nem todo “contrafluxo” é subversão. Às vezes é só cinismo com likes.
E então chegamos à palavra que todos evitam: censura. Mas talvez devêssemos falar também de castração — não como punição, mas como o limite que funda o laço.
Essa é pode ser uma vitória judicial para quem acredita que liberdade de expressão sem castração simbólica é gozo à solta, riso que escapa da ética e se fantasia de crítica, Mas o que ela repesenta? Como estão as ruas? Como está o Estado?
Para quem conhece o inconsciente, não se trata de obedecer a lei, mas de responder ao desejo — e isso inclui sustentar o limite, o risco, a responsabilidade de existir em laço, sem fazer do outro objeto do nosso alívio cínico.