22/11/2017
FIQUE LONGE DA MEDITAÇÃO
"Meditação é um exercício espiritual, creio que o mais antigo que o homem tenha inventado. É possível que a meditação tenha surgido junto com a humanidade; ela é um instrumento simples e seguro de autoconhecimento, de revelação de quem essencialmente somos.
Talvez algumas pessoas não queiram realmente saber quem são, então para estas pessoas vai esta recomendação:
Fique longe da meditação!
Fique longe da meditação, caso você não queira estar consciente de seu corpo. Talvez você descubra que não o aceita como é, que rejeita o prazer por medo, ou que a dor lhe aterroriza a alma. Talvez você não queira testemunhar a decadência. Talvez meditando você conclua que vai mesmo morrer e que nada pode ser feito para impedir isto.
Fique longe da meditação, pois ela pode lhe revelar toda a insatisfação que você experimenta em suas atividades, deixando claro que você fez as escolhas erradas e que amordaçou em si seus sonhos e sua vocação. Talvez você tenha se vendido barato em busca de aprovação familiar ou social. Ou perceba que seu trabalho prospera na medida em que destrói vidas, ou descubra que não é definitivamente feliz em seu emprego, e que será custoso agora correr na direção dos seus sonhos, mesmo sabendo que, irremediavelmente, é o que deve ser feito.
Fique longe da meditação, ela poderá revelar sua insegurança básica de não se sentir amado, ou ainda lhe mostre que sua sexualidade nunca foi uma comunhão amorosa, e sim uma masturbação a dois, cada parte isolada da outra e de si mesmo. Talvez você descubra que seu gozo não é um gozo e sim um escapismo, para afogar a angústia de levar uma vida sem sentido e sem afeto. Talvez lhe fique claro qual é o seu desejo mais profundo e se ele foi lhe ensinado como pecado, você terá de escolher entre vivê-lo ou mantê-lo de castigo no quartinho das frustrações. A meditação mostrará que a vida lhe cobrará os dons que foram semeados entre espinhos e pedregulhos.
Fique longe da meditação, caso você esteja identificado com seus hábitos, se você acredita que você é o amontoado de “quereres”. Se estiver convencido de que seus hábitos traduzem quem você é, afaste-se da meditação, porque ela irá transformar seu modo de ver e atuar no mundo, de entender a si próprio, logo, aos outros. E quando estas transformações começarem, talvez as pessoas próximas de você lhe estranhem e passem a lhe cobrar para voltar a ser o “você” de antigamente, aquela imagem mumificada que elas tinham sobre este tal “você”. Talvez você mesmo se estranhe, e se o medo do novo for maior do que o desejo de morrer para ressurgir, assim como a lagarta vira pupa e renasce como borboleta, é melhor afastar-se da arte de viver e morrer em contemplação.
Fique longe da meditação: ela poderá mudar os itens do seu menu, lhe fazendo mais consciente do que e o quanto você deve comer, de como você mantém boa vitalidade e energia, dormindo e se alimentando adequadamente, e talvez você ainda queira esbanjar um pouco mais de saúde nas guloseimas gotejantes e artificialmente aromatizadas. Talvez para você seja importante encher a barriga até o pescoço só para esquecer que tem o peito vazio. A meditação lhe mostrará como você some enquanto consome.
Esqueça a meditação, a menos que exista disponibilidade para ouvir o coração, para finalmente olhar aquela dor antiga, aquele vazio existencial agudo, que dói sem doer e arde sem queimar. Mas é bom saber que muitas vezes, na ânsia de ouvir o coração em suas dores, alguns teimem em buscar fora o que já esta dentro, e a necessidade de correr em direção de gurus, sábios, santos e mestres surja na meditação, cedo ou tarde, pela ânsia de preencher o buraco emocional do passado mal resolvido, o vazio que os pais deixaram, o vazio saudoso do uterino sonho de unidade, ou seja, o vazio por ter sido expulso do paraíso. A menos que se queira beber do cálice da dor até o fim e embriagar-se de alegria desmotivada de simplesmente ser, esqueça a meditação.
Afaste-se da meditação se você não tem a verdade em alta conta, se a mentira já virou café da manhã posta à mesa das relações, se mentir é um negócio lucrativo, uma espécie de alivio, se lhe confere algum tipo de atributo quimérico entre os seus, se a mentira é seu evangelho, seu manual para ser alguém especial, respeitável e amado. Se te amam pelo que você não é, e você não quer mudar isso, fique longe da prática silenciosa, pois a meditação não tem outro objetivo se não o de revelar a verdade, a tal ponto que, se sua vida estiver alicerçada na mentira ela irá ruir.
Fique longe da meditação se tem apreço maior pela escuridão do que pela luz, se a venda que cobrem os seus olhos lhe é confortável ou até mesmo natural; se a cegueira interna é tomada por visão, porque a meditação colocará fim na argumentação, mesmo que ela soe lógica e razoável. Não é possível mentir para o próprio coração e meditar é acima de tudo, sentir.
A meditação lhe evidenciará a dificuldade em aceitar e conviver com as diferenças. Fique longe dela então, se ainda tem esperanças de controlar as pessoas e situações. Se o “diferente” incomoda, é melhor nem pensar sobre meditação, porque ela deixará claro como cada entidade é um milagre que não se repete e simultaneamente revelará que somos todos muito parecidos, que sentimos alegrias e tristezas, que todos aninham desejos honestos de felicidade, e que na busca pela bênção, acabamos espalhando algumas maldições. Que por mais prósperos e ricos que possamos nos tornar, não é o que temos que nos fará felizes, mas sim aquilo que somos. E isto que somos está presente em todos, pois essencialmente todos somos Um.
Fique longe da meditação, ela poderá destruir suas sólidas crenças tão frágeis, abalar suas belas relações maquiadas, desinfetar suas ideias, remover o desprezo pelo que é diferente, revelar todo o seu ridículo e tudo aquilo que é gloriosamente belo e comum.
Ela não lhe fará melhor que ninguém, ela te igualará. Ela não tem valor no mercado, não cria status, não tem outro objetivo se não o de revelar quem você é.
Se depois de tudo isto você ainda quiser sentar-se para meditar, não espere uma medalha reluzente por sua valentia, não espere receber flores por sua coragem em se enfrentar, mas antes, sementes para o plantio, pois através da meditação naturalmente iremos semear a paz.
Se não quiser trabalhar na construção de um mundo mais justo e pacífico, então fique longe da meditação, mas saiba que também estará longe de si mesmo.
Em beneficio de todos os seres, fique perto da paz!"
Prema Seva!
Ananda Joy