21/04/2023
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Todo 21 de abril, a mesma ignorância: Tiradentes (Joaquim José da Silva Xavier) é exaltado como símbolo da liberdade ou denunciado como “farsa histórica”. Quando pesquisamos a história sem olhos lacradores, a verdade é bem diferente, e bem mais rica e interessante.
Tiradentes como herói republicano defensor da separação do Brasil de Portugal é invenção de positivistas e republicanos no século XIX. O 21 de abril só existe, aliás, por sugestão do positivista Teixeira Mendes para celebrar os “precursores da Independência Brasileira, resumidos em Tiradentes”.
Mesmo a imagem que temos dele de barba e cabelos longos, de Cristo martirizado, é falsa. Não se tem registro preciso de como ele era, de aspectos relevantes de sua vida e até mesmo do evento histórico do qual fez parte. Mesmo a principal fonte primária, os Autos de Devassa da Inconfidência Mineira, revelam não uma, mas várias histórias.
Mas o homem que emerge dos registros existentes é mais interessante do que o falso mito criado a partir de 1890 e que foi sendo apropriado ideologicamente por grupos políticos distintos: Estado Novo varguista, regime militar, organização terrorista socialista Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), movimento pela redemocratização do país, liberais a partir de 2000 que o exaltam como herói contra os impostos.
Um exemplo: a partir de 1788, Tiradentes decidiu que ficaria rico e foi para o Rio de Janeiro desenvolver projetos de infraestrutura com base nos seus conhecimentos de engenharia e geografia. Os projetos não foram adiante porque teriam sido boicotados por certa elite carioca, que desconfiava dele, e pelo vice-rei, que ficou irritado porque Tiradentes tentou contato direto com a rainha de Portugal ignorando a sua autoridade. Viria daí o seu ressentimento em face da coroa portuguesa e o porquê dele ter se juntado aos insurgentes mineiros.
Mesmo não sendo herói nem mito , Tiradentes é personagem fascinante e importante para entendermos parte da nossa história. É idiotice exaltá-lo pelo que ele não foi ou reduzi-lo diante do que ele foi. É tão estúpido quanto transformar a nossa história numa caricatura e mentir sobre a sua grandiosidade.