
15/07/2025
Guia IBA – Gemidos e Expressões de Dor em Pessoas com Alzheimer
O que significam, por que acontecem e como aliviar com dignidade
“Ele geme o dia inteiro. Já fiz de tudo e nada resolve.”
Essa é uma das dores mais profundas de quem cuida de alguém com demência. Ouvir gemidos, lamentos, suspiros, sem conseguir entender o motivo, é devastador. Mas o corpo fala – e precisamos escutar com mais do que ouvidos.
🩺 Alzheimer não tira a dor – tira a capacidade de dizer onde dói
Pessoas com demência sentem dor como qualquer um. A diferença é que elas não conseguem localizar ou descrever o que sentem. Por isso, os gemidos constantes podem ser:
🔹 1. Sinal de dor física real
Mesmo com exames normais, pode haver:
Dores musculares ou nas articulações (comuns em idosos)
Dor de cabeça, de dente, enxaquecas
Prisão de ventre ou fezes impactadas
Infecção urinária
Feridas, assaduras ou pressão da fralda
Dores por ficar muito tempo na mesma posição
🔹 2. Sinal de desconforto emocional
Pessoas com Alzheimer podem gemer por:
Medo, solidão, agitação mental
Barulho excessivo, luz forte, ambiente frio ou confuso
Falta de toque humano, carinho ou conexão
Sensação de abandono, mesmo cercado de gente
🔹 3. Expressão neurológica
Em fases mais avançadas da demência, o cérebro pode disparar sinais de dor mesmo sem causa física aparente, como espasmos musculares involuntários ou sensações mal interpretadas pelo cérebro lesionado.
🧭 Como o cuidador pode agir
✔️ 1. Não ignore. Observe com lupa e com o coração.
Os gemidos têm padrão? Acontecem após refeições? Durante a higiene? À noite?
Mude a posição do corpo a cada 2 horas
Toque o corpo com carinho para observar reações (rígido? retraído? sensível em alguma região?)
✔️ 2. Busque avaliação médica especializada
Um geriatra ou médico paliativista pode avaliar de forma mais ampla
Às vezes, o uso de analgésicos leves não basta – pode ser necessário um protocolo contínuo de dor, inclusive com morfina em dose controlada, quando indicado
✔️ 3. Aposte no conforto total
Massagens leves, óleos vegetais, compressas mornas
Reduza estímulos visuais e sonoros
Coloque músicas suaves, voz baixa, temperatura agradável
Valorize o toque: segurar a mão, acariciar o rosto – o corpo reconhece o afeto
🗣️ Importante: dor não é manha. Dor não é fase. Dor precisa ser tratada.
Se a pessoa está gemendo, algo precisa mudar. O alívio da dor é um direito humano – mesmo em quem já não fala mais, já não se lembra mais. É com alívio que o corpo repousa. É com dignidade que o cuidado se transforma em amor verdadeiro.
💬 Para o cuidador que já tentou de tudo:
Você não está sozinho.
Você não está falhando.
Você está no limite – e isso também precisa ser cuidado.
Peça ajuda. Compartilhe com o grupo. Fale com um profissional.
Cuidar de alguém em dor também dói. E você merece apoio.
📍 Instituto Berna Almeida – Apoio a Cuidadores Familiares
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