08/09/2024
Lembra que contei sobre o apartamento que morei e tinha uma família de urubus, logo que cheguei a Venezuela?
Então, hoje resolvi retornar à história, não dos urubus, mas à experiência de morar pela primeira vez em outro país. Isso porque, apesar de cada expatriação ter suas peculiaridades, ainda assim, algumas experiências tornam-se mais comuns para nós. No entanto, a minha primeira mudança teve um desafio único, algo que não se repetiu em nenhum outro lugar: a chegada solitária.
Vivenciei a primeira expatriação há 17 anos atrás, recém-casada e até então não tinha filhos, o que de alguma forma dificultava o acolhimento e novas conexões no novo país. Afinal, quando se é mãe, outras mães se solidarizam, se conhecem na escola dos filhos, encontram sempre algo em comum.
E assim, logo que cheguei a Caracas, além dos desafios da comunicação, dos urubus, enfim de lidar com uma nova rotina, somado a tudo isso, veio na bagagem a sensação de solidão, inerente a todos nós imigrantes. Senti falta de conexão, de referência, de alguma familiaridade ou alguém familiar.
Senti falta até mesmo de ouvir alguém falando português.
Por me sentir sozinha decidi estudar espanhol e também me aventurei a fazer um curso na área de educação na Universidade Metropolitana de Caracas. Nesta época, frequentava a lan house do hotel (essa geração não sabe o que é isso! 😊) para acessar a internet e conversar com amigos e familiares pelo messenger. Foi então, que certa vez ouvi alguém falando português, o que me trouxe uma sensação de estar em casa.
Não me contive e fui puxar conversa! Para minha surpresa, ela era portuguesa e nos tornamos amigas. Foi a partir daí que ampliei meu círculo de amizades, conheci mais expressões em espanhol e me aproximei mais da cultura venezuelana.