02/12/2025
Há feridas que os olhos não veem, mas que o coração das crianças sente com uma força que nenhum adulto imagina.
O silêncio que elas fazem depois de ouvir uma briga.
A forma como passam a não dormir bem.
A dificuldade em concentrar-se na escola no dia seguinte.
O medo de falar. O medo de errar. O medo de existir.
Conflitos conjugais não são apenas discussões entre adultos.
São terremotos emocionais que atravessam paredes, portas e horários de silêncio. E chegam exatamente onde os filhos são mais vulneráveis: na sua segurança emocional.
A ciência é clara. Estudos mostram que crianças expostas a conflitos intensos entre os pais apresentam maior risco de ansiedade, dificuldades de aprendizagem, problemas de comportamento, quedas no rendimento escolar e sintomas de depressão. Não porque são fracas, mas porque carregam emoções maiores do que a idade consegue suportar.
Crianças aprendem sobre o mundo olhando para o que os adultos fazem.
Quando o ambiente é marcado por gritos, acusações e tensão, o corpo da criança entra num estado de alerta constante. O cérebro, que deveria estar focado em aprender, brincar e crescer, passa a gastar energia apenas para sobreviver emocionalmente. E quando a segurança emocional está ameaçada, nenhuma criança consegue concentrar-se na escola.
Como psicólogo de crianças e adolescentes, afirmo com firmeza e empatia:
Ninguém é perfeito. Todos discutem. A questão não é nunca brigar. A questão é como, quando e diante de quem se briga.
Porque a forma como os pais lidam com conflitos torna-se o manual interno que a criança usa para lidar com o mundo.
Se houver algo a guardar deste texto, que seja isto:
Antes de responder com raiva, pense no que o seu filho está a aprender naquele instante.
Antes de elevar o tom, lembre-se de que o coração dele está a aprender o que é amor, segurança e respeito observando você.
E se houver conflito, que exista também reparação, diálogo, reconhecimento e responsabilidade. Isso também cura.
Criar um lar emocionalmente seguro não exige perfeição.
Exige presença.
Exige consciência.
Exige coragem para mudar pequenas coisas que fazem uma diferença enorme na vida dos filhos.
O seu filho merece crescer num ambiente onde o amor fale mais alto do que qualquer discussão.
E você também.
Referências (APA 7ª edição)
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Davies, P. T., & Martin, M. J. (2013). Children’s coping and adjustment in high-conflict homes: The role of emotional security. *Journal of Family Psychology, 27*(2), 242–252. [https://doi.org/10.1037/a0031995](https://doi.org/10.1037/a0031995)
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Kelly, J. B. (2000). Children’s adjustment in conflicted marriage and divorce. *American Psychologist, 55*(2), 263–273. [https://doi.org/10.1037/0003-066X.55.2-3.263](https://doi.org/10.1037/0003-066X.55.2-3.263)
Markman, H. J., & Rhoades, G. K. (2012). Relationship education research: Current status and future directions. *Journal of Marital and Family Therapy, 38*(1), 169–200. [https://doi.org/10.1111/j.1752-0606.2011.00247.x](https://doi.org/10.1111/j.1752-0606.2011.00247.x)
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