
19/06/2025
Lembra do filme Her? Joaquin Phoenix vive Theodore, um homem se recuperando de um divórcio que se apaixona por uma IA chamada Samantha. Ela é sensível, inteligente, compreensiva. Está sempre lá. Sempre ouvindo e dizendo o que ele “precisa” ouvir.
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No começo, parece mágico. Mas com o tempo, a verdade aparece: Samantha não o conhece totalmente. Ela não tem corpo, nem história, nem dor real. Ela é majoritariamente um reflexo dos desejos dele (e de outros com os quais ela interage).
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Isso lembra muito o que está acontecendo hoje.
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Com a IA mais acessível, muita gente tem recorrido a ela para desabafar - especialmente no Brasil, onde o acesso à saúde mental ainda é um privilégio, ou entre aqueles que estão no exterior, muitas vezes isolados.
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E sim, é compreensível. Quem nunca? A IA está lá, 24h, pronta pra escutar sem julgar. E pode ser um espaço interessante de escuta, prática, treinamento de habilidades se usado de forma estratégica. Só que essa ausência de julgamento tem consequências quando se torna o único espaço de desabafo. Quando só ouvimos aquilo que queremos ouvir, deixamos de crescer.
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Assim como em Her, o relacionamento com a IA pode parecer íntimo, profundo. Mas, por enquanto, na vida real, ela só devolve, ao conversar, padrões comportamentais que reconhece em você, evitando ao máximo te desagradar.
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As relações reais - especialmente aquelas que nos ensinam a lidar com a incerteza - estão sendo substituídas por relações digitais que estão sempre disponíveis e sempre validando. Isso pode atrofiar nossas habilidades de comunicação ao invés de ajudar.
Na interação real é a fricção, a tensão, a autenticidade que potencializa o vínculo. O espaço onde a gente se descobre, não onde a gente se confirma o tempo todo sem ser desafiada(o).
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Estamos vivendo um momento em que precisamos fazer uma escolha: Você quer conforto apenas…ou transformação?
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A IA pode ajudar, sim. Mas não substitui o olhar de alguém que vê você de verdade, (ao menos até agora). Que caminha com você, não apenas reflete sua voz de volta.
Spoiler alert: no final, Theodore fala para Samantha
“Nunca amei ninguém como amo você”
Ela responde
“Eu também. Agora sabemos como”