25/05/2024
Alguns dias antes do falecimento de minha avó, eu criei um post no Instagram sobre o luto. E quando falamos sobre o assunto, trazemos de volta várias memórias e pensamos no luto apenas como a perda de uma pessoa querida, mas muitas vezes esse luto também se aplica a outras grandes perdas, coisas que definitivamente irão modificar ou influenciar mudanças drásticas nas nossas vidas.
O luto por alguém querido que deixa essa vida continua sendo algo que nos causa imensa dor. Talvez pelo fato de que nem sempre temos tempo de dizer adeus. Talvez pelo fato de que a ausência dessa pessoa ocupa um lugar muito grande nas nossas vidas. Talvez porque nos sentimos raivosos pela partida. Qualquer que seja o motivo, a dor é uma companhia por muito tempo.
O tempo, para mim, é como um fantástico escultor. Sempre procura aquelas rachaduras na nossa estrutura e tenta consertá-las. Esse processo também é doloroso, mas como todo processo da alma, deixa marcas. A marca do produto da dor e a marca da luta contra essa dor.
No meu post eu falo: “Luto não conhece calendário, nem agenda, nem prazo. Cada coração lamenta no seu próprio tempo, encontrando co***lo no seu ritmo único. Que a compaixão nos guie enquanto honramos a jornada de cada um através das águas desconhecidas do luto.”
E como isso funciona na prática? Darei alguns exemplos de como lidar com o luto, porém tenha em mente que o aspecto psicológico muitas vezes difere do aspecto religioso, mas um pode complementar o outro.
1. Crie um Espaço Seguro para Expressão: Expressem seu luto abertamente e sem julgamento. É normal sentir uma ampla gama de emoções, desde raiva e tristeza até confusão e desespero. O ato de verbalizar emoções pode te ajudar a processar seus sentimentos e eventualmente encontrar cura.
2. Rituais e Memoriais: Rituais e memoriais podem proporcionar estrutura e conforto durante os momentos de luto. Realizar uma cerimônia de lembrança pode te ajudar a se sentir conectado e encontrar co***lo ao lembrar dos momentos que compartilharam. Embora algumas religiões tenham esses rituais, alguns deles são bem mais simples, e de certa forma respeitosa à fé da pessoa que partiu. Escrever uma carta, plantar uma árvore, doar alimentos, são rituais simples feitos em memória da pessoa querida e dão uma sensação de preenchimento.
3. Reduza os Fatores de Estresse: Uma das práticas mais complicadas porque o mundo não para. Mas se a dor é muita, você pode parar por alguns minutos, buscar uma forma de relaxamento e voltar às atividades cotidianas.
4. Autocompaixão e Autocuidado: Cuidar de si mesmo não é egoísmo, não negligencie-se em prol dos outros ou em prol da dor. Sentar-se num jardim, ouvir música, buscar ajuda profissional, maquiar-se, tomar um banho de banheira, não quer dizer que você é insensível. A jornada de cura tem muitas estradas.
5. Busque e Relembre os Significados: Qual foi o impacto dessa pessoa na sua vida? Qual a importância? Como foram seus últimos momentos? Muitas vezes, quando avaliamos o valor do outro, compreendemos o nosso próprio valor. E entendemos que certas coisas não estão em nosso controle, por isso devemos viver nosso dia como se fosse o último.
6. Valide os Seus Sentimentos: Não se sinta culpado pela dor que sente, mas compreenda que está doendo. Não desconsidere ou minimize suas emoções mesmo que pareçam irracionais ou avassaladoras. É normal experimentar uma montanha-russa de emoções e seus sentimentos são válidos e merecem compaixão.
7. Respeite Seu Estilo de Enfrentamento: Cada um lida de uma forma única e por isso não existe uma abordagem única para o luto. Seja encontrando conforto na solidão, conexões sociais ou recorrendo às práticas espirituais para obter forças. Ao honrar sua individualidade, você se capacita para navegar no luto de uma maneira que lhe pareça autêntica e significativa.
Empatia e Compreensão: São palavras e sentimentos que irão te auxiliar nessa jornada. Não as ignore. Nem para os outros nem para si próprio. Da mesma forma que a pessoa que deixou essa vida tinha um certo valor, a sua vida também tem valor. Encontre seu caminho e tenha certeza de que você não estará sozinho nessa estrada.
“Luto não conhece calendário, nem agenda, nem prazo” desde que a lamentação e a culpa não lhe cerquem, o tempo irá te ajudar a compreender de forma inconsciente como lidar com essa perda no dia a dia. Buscar ajuda profissional pode também ser adicionado às técnicas citadas e com grande número de sucesso. Mas em termos de luto, assim como em termos de vida, sabemos que leva tempo. Opções miraculosas, falsas coberturas, aprisionamento de emoções só vão favorecer para um problema futuro.
E se o fim do ciclo faz parte das leis da vida, que o meio seja repleto de amor.