09/09/2021
O percurso da adição apresenta-se em padrões muito diferentes em cada pessoa. Para algumas pessoas começa muito precocemente, na pré-adolescência e adolescência, muitas vezes com consumos excessivos com os amigos, num ambiente social e de diversão. Outras vezes inicia-se com comportamentos aparentemente mais inocentes, como passar demasiado tempo em jogos online, que mais tarde se tornam incontroláveis e compulsivos. Noutros casos a adição só começa a aparecer mais tarde, numa fase de vida mais tardia, em função de acontecimentos de vida stressantes ou traumáticos, como divórcio ou perda de um ente querido, ou de outras perturbações psicológicas, como a depressão.
No entanto, existem alguns mecanismos em comum que estão na base da adição. Mais especif**amente, falamos de alterações cerebrais no sistema de recompensa do nosso cérebro (responsável por libertar os neurotransmissores que transmitem a sensação de prazer). Numa pessoa que sofra desta perturbação, este sistema f**a alterado como consequência dos consumos de substâncias ou dos comportamentos a que se é adito, uma vez que estes dão uma sensação de prazer imediato. Ao longo do tempo, o cérebro vai continuar a procurar gratif**ação imediata e a capacidade de tolerância à frustração é cada vez mais diminuta. Esta frustração pode ser originada pelos mais diversos aspetos que gerem pensamentos e/ou emoções negativas, como conflitos ou dificuldades interpessoais, problemas laborais ou até traços de personalidade com os quais a pessoa tem dificuldades em lidar.
Esta alteração no sistema de recompensa tem efeitos importantes:
As atividades saudáveis, os hobbies, que geralmente geravam satisfação, deixam de o fazer, o que conduz à repetição do comportamento compulsivo, numa busca de prazer;
Desenvolve-se uma tolerância cada vez maior à substância ou comportamento e como tal os consumos e/ou comportamentos aumentam gradualmente;
As consequências negativas da adição, tão visíveis para os outros, são minimizadas pelo próprio adito, que, muitas vezes, não se consegue aperceber da real dimensão do problema.
As alterações no sistema de recompensa são mantidas por mecanismos de associação. Todos os estímulos associados aos comportamentos de consumo (por exemplo, locais, pessoas, emoções) funcionam como triggers que conduzem ao craving - vontade incontrolável de consumir ou realizar o comportamento em questão.
Estas associações são extremamente fortes e também explicam por que razão a recaída é tão recorrente para quem sofre de adição: mesmo após períodos de abstinência, elas podem ser reavivadas e conduzir ao início de um novo ciclo.
Este é um ciclo que se mantém a si próprio através de mecanismos de reforço neurobiológicos e psicológicos. Pode pensar-se na adição como um ciclo de comportamentos que pretendem ser um escape a estados psicológicos negativos, numa busca incessante de bem-estar. No entanto, o bem-estar alcançado através destes comportamentos e consumos é sempre fugaz e passageiro, conduzindo a nova insatisfação e nova procura de bem-estar, num loop quase infinito.