11/02/2022
Dia dos namorados (Agir com amor)
Os relacionamentos amorosos são simultaneamente maravilhosos e terríveis. São como uma montanha russa de emoções que tanto nos leva lá para o alto, para o pico da excitação como nos fazem sentir inseguros e com medo. Nas asas do amor, tanto voamos para a estratosfera como caímos com grande estardalhaço na lama.
Nos primeiros dias dos relacionamentos o que vemos? Os namorados seguram as mãos um do outro com ternura, olham-se longamente nos olhos, quase se pode ouvir o seu coração bater mais forte … É difícil acreditar que um dia, num futuro não muito distante, todos esses sentimentos felizes terão desaparecido. Evaporam-se, desaparecem sem deixar rasto e no lugar deles surge muitas vezes, a raiva, medo, tristeza e frustração. Por que é que isto é assim? Bem, o simples facto é este: as emoções são impermanentes; são como o tempo: há dias com sol, mas noutros o frio e a chuva abundam.
A maioria de nós sabe disso, mas esquecemos facilmente, pensamos sempre que só acontece aos outros e esperamos que connosco seja diferente e que estes sentimentos iniciais perdurem. Esperamos que os nossos parceiros atendam todas as nossas necessidades, se comportem da maneira que queremos, cumpram os nossos desejos, que tornem as nossas vidas melhores, mais fáceis, mais felizes e f**amos chateados quando a realidade nos atinge em cheio e acaba com a nossa fantasia.
Não precisam de acreditar em mim, procurem na vossa própria experiência: alguma vez tiveram um relacionamento íntimo com alguém com quem partilharam o vosso tempo e energia que não vos tivesse também trazido alguma dose de sofrimento? Então, esta é uma das verdades mais inconvenientes de ter um relacionamento amoroso: tanto nos traz muita alegria, paixão e conexão, como tristeza, raiva e medo. Tudo isto é ignorado por novelas, romances e filmes que disseminam vários mitos, alguns dos quais já vêm desde a antiga Grécia com Aristófanes, por exemplo. Na sua metáfora, nós fomos castigados e condenados pelos deuses a sermos apenas metades, como tal, só nos sentiremos realizados e completos quando encontrarmos a nossa outra metade.
Nas novas abordagens da psicologia clínica, especialmente a Terapia da Aceitação e Compromisso, considera-se que o sofrimento humano, no geral, e nos relacionamentos, em particular, decorre, em grande medida, da natureza da nossa mente e das suas armadilhas que, entre outros, nos arrasta constantemente para o passado e para o futuro e se foca excessivamente nos aspetos negativos dos acontecimentos. É por isso que é muito mais fácil para nós lembrarmo-nos daquele erro que o nosso parceiro fez no mês passado do que daquele miminho que nos fez de manhã: a nossa mente adora contar as suas histórias. Adora um drama! Ela desenterra memórias dolorosas do passado e evoca cenários assustadores sobre o futuro; ou fantasia sobre os mitos do amor. Se nós nos apegarmos demasiado a estas histórias, podemos ter a certeza que isso vai esgotar toda a vitalidade da relação. E é aqui que entra a diferença fundamental desta abordagem: o amor não é um sentimento, mas sim um conjunto de ações que, estas sim, estão no nosso controlo e não dependem da volatilidade das emoções.
Portanto, o nosso esforço vai no sentido de criar expectativas mais realistas: construir o melhor relacionamento possível, dadas as limitações da realidade, onde possamos “agir com amor”, de acordo com valores que sejam importantes para nós, ao mesmo tempo que aprendemos a gerir as “armadilhas da mente”.