17/12/2023
Reconheço que, sempre que temos um bebé no colo, nos apetece muito que seja para sempre bebé. Não só para que ele precise de nós, sem obstáculos e de forma feliz. Mas porque um bebé nos faz sentir um bocadinho Deus; tal é o que descobrimos que somos capazes de lhe dar. O deslumbramento que ele nos traz. E a forma como nos torna pessoas mais bondosas e mais bonitas! Mas precisará ele de precisar sempre de nós, presentes em tudo o que faça, para crescermos mais e mais com ele? Proteger demais será proteger ou fragilizar?…
Para as mães - sobretudo… - é uma tentação estarem em todos os momentos da vida de um filho. Acarinhá-lo de todas as formas. Corresponder a tudo o que ele mais quer. E adivinhar o que, ainda, nem sequer descobriu que ia pedir. É por isso que as mães dizem, num desabafo, que adorariam “ser moscas”… para estarem em todo os lugares em que os filhos estão sem que eles dêem por isso. Ou barafustam, com um sorriso nos olhos, contra a forma como, sempre que não estão ao lado deles, acabam por não fazer os trabalhos de casa. Ou como, enquanto praguejam com a desarrumação do quarto, o arrumam, com delicadeza e com ternura, duma ponta até à outra.
Tudo este “trabalho de mãe” é bonito! Aliás, não é bem um trabalho. Será, talvez mais, a arte incansável de apaparicar. Mas com isso os pais e as mães autonomizam de menos as crianças. E crianças menos autónomas são mais “principezinhos” mas menos desembaraçadas. Mais frágeis e menos seguras. Ficam mais à espera que o mundo venha ter com elas do que são “furonas” e despachadas.
Por tudo isto, preocupo-me muito com a forma como deixamos que os nossos filhos não sejam autónomos. Eles precisam de não precisar sempre de nós! Nem que, para tanto, os “obriguemos” a ser autónomos. Para que, depois, descubram que são (mesmo!) capazes de o ser. Não fazer por eles (nem com eles) tudo o que podem fazer sozinhos é “a medida”. Não transformar num “mimo” aquilo que “têm” de ser eles a fazer um gesto ainda mais bondoso do que quando lhes demos “tudo” quando eram bebes. Proteger e autonomizar será o cume daquilo que, de melhor, temos para lhes dar.