02/09/2025
há dores que não deixam marcas no corpo,
mas pesam na alma.
há mulheres que vão morrendo aos poucos,
por dentro, enquanto o mundo lá fora segue.
ninguém vê os silêncios onde antes cabiam gargalhadas,
ninguém repara no brilho que se apaga devagar,
nem na vontade de desaparecer quando tudo o que se queria era ser amada,
mas o amor tornou-se medo,
e o medo fez-se casa.
não é preciso gritar para estar a pedir socorro.
há mulheres que pedem ajuda sem dizer uma palavra.
pedem quando hesitam antes de atender o telefone,
quando inventam desculpas para não sair de casa,
quando apagam as mensagens para evitar discussões.
quando dão por si a pedir desculpa a toda a hora,
quando olham para baixo para não provocar um olhar atravessado.
cada vez que se calam na presença dele,
cada vez que sorriem com medo,
cada vez que respondem “está tudo bem” para não alarmar ninguém.
há mulheres que aprenderam a ser pequenas dentro da própria vida,
a andar em bicos de pés para não incomodar,
a tremer só de ouvir uma chave na porta.
e ninguém imagina o esforço que é fingir que está tudo bem quando o coração só queria ser pedra e não sentir mais nada.
se ler isto te dói,
quero que saibas que não estás sozinha.
há quem te entenda sem nunca te ter visto.
há quem saiba o que é dormir de olhos abertos.
há quem já passou pelo mesmo silêncio e descobriu que é possível pedir ajuda, recomeçar, ser salva..
ninguém devia viver assim.
ninguém devia ter medo de quem divide a cama.
e depois dizem: “entre marido e mulher não se mete a colher”,
meti sim.
mete a colher, mete a pá, mete a televisão se for preciso e faz barulho!
não é intromissão, é um dever cívico salvar quem já não consegue pedir socorro.
às vezes basta uma denúncia, para impedir que o silêncio termine numa ausência irreversível.
só muda o fim quando alguém decide não ignorar,
quando alguém se recusa a fingir que não vê,
quando alguém percebe e denuncia.
é preciso expor para quebrar o ciclo,
porque o nosso silêncio é sempre o aliado de quem silencia.
SOMOS O GRITO DE TODAS AS MULHERES
QUE JÁ NÃO ESTÃO AQUI.