20/07/2025
Hoje é o Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação. Estarei em Coimbra, à tarde, no Auditório do Pavilhão Centro de Portugal, no Parque Verde do Mondego, a dizer que este dia celebra o maior diamante que encontrei em toda a minha vida: o transplante do Benjamim.
Não há nada mais próximo do divino do que ver um corpo que estava a ceder a ser devolvido à vida por outro corpo que teve a grandeza de dar. A ciência salvou o meu filho; foi a generosidade humana que lhe abriu as portas da nova vida. Um fígado que renasce dentro de outro corpo. Se isto não é milagre, o que raio será um milagre?
Vejo-o agora a correr, a cair de propósito só para rir mais alto. Vejo-lhe a infância finalmente a acontecer. Penso em quem deu, na dor inconsolável de quem deu. Penso nos génios — médicos, enfermeiros, técnicos — que dançam esta valsa com a morte, com a doença, e a empurram para o canto da sala.
O transplante hepático pediátrico é uma obra-prima de engenharia existencial. A ideia parece simples: substituir uma peça. Mas isto não é uma peça; é o centro químico da vida. Retirar um fígado defeituoso e ligá-lo a um novo corpo é como redesenhar o universo com um bisturi. Cortam artérias, redesenham labirintos biliares. A criança é mantida viva por máquinas — por fé, também. É um acto de violência sagrada, uma cirurgia que beija a morte para a enganar.
Agradeço. Agradeço tanto, tanto. Todos os dias, a toda a hora. Com o peso da gratidão absoluta. Hoje, celebro o humano quando olha para o lado certo. Quando o faz, é capaz de tudo. Até de vencer o impossível.