27/10/2025
“A clínica é soberana”.
Durante grande parte da história dos profissionais de saúde, o exame físico e a observação eram os pilares do diagnóstico. Os profissionais desenvolviam uma acuidade sensorial e intuitiva: sabiam ler a pele, o olhar, a respiração, o tônus muscular, o odor corporal, o ritmo das palavras. O corpo era um texto a ser decifrado.
Com o avanço tecnológico, especialmente nas últimas décadas, houve uma transferência de confiança — do olhar clínico para os números laboratoriais e as imagens de diagnóstico. Os exames complementares tornaram-se cada vez mais precisos e acessíveis, o que trouxe enormes benefícios em termos de deteção precoce e objetividade. Mas não deixam de ser…”complementares”.
Mas, paradoxalmente, a nova dependência dos dados técnicos levou a uma certa atrofia do sentido clínico.
Hoje, muitos se formam com base em protocolos, algoritmos e valores de referência, mas nem sempre aprendem a observar o corpo como fonte primária de informação. O exame físico e a escuta ativa tornaram-se, em muitos contextos, gestos simbólicos, quase burocráticos.
O risco é duplo:
📍Desumanização da prática clínica, porque o paciente é reduzido a resultados de análises e imagens.
📍Empobrecimento do raciocínio clínico, porque se perde a arte de correlacionar sinais, sintomas e contexto.
O ideal seria recuperar o equilíbrio: usar os exames como extensão dos sentidos. A tecnologia não deve ser o ponto de partida nem o fim do raciocínio.
A máxima “a clínica é soberana” deveria prevalecer.