Cristina Maçorano
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Categoria
Histórias sentidas
Há mais de 20 anos que trabalho com pessoas e para pessoas. E, pensando bem, acho que foi sempre este o caminho que ansiei, desde que me lembro de mim própria. Nesta viagem, que dura a vida inteira, desempenhei muitas funções, descobri saberes e aprendi técnicas, mas aquilo que sempre me levou a ser e a querer ser mais foi esta paixão por conhecer o outro, doar ao outro, estar ali para o outro. Porque, quase sempre, é através do outro que chegámos a nós e ao mundo inteiro. Ainda menina, já os outros me apaixonavam. Percebê-los, entendê-los, ouvi-los acabou por se tornar um hábito que me fazia bem e fazia a minha vida ter ainda mais sentido. Por isso, em tudo o que fiz e aprendi, em tudo o que desempenhei e decidi abraçar houve sempre este apelo único de, de uma forma ou outra, chegar ao coração dos outros e nele estender a mão de quem escuta, ampara e consola. De quem sabe que as dores doem, mas que sabe também que as alegrias sempre chegam e que a felicidade, às vezes, só depende de uma mão que se abre e de uma voz que ouve e aprende a escutar. Por essa razão, dediquei tantos anos a cuidar e a aprender a cuidar mais. A cuidar da beleza e do corpo e a perceber que o melhor cuidar é o que toca dentro. Iniciei uma caminhada por novas aprendizagens e cada uma delas me foi levando a novos lugares, a novas técnicas, a novos conhecimentos. Aperfeiçoei-os com a experiência. E hoje, faço das pessoas o meu ponto de encontro especial, ajudando-as a ultrapassar a sua dor, melhorando o conhecimento que têm se si mesma, acompanhando-as na viagem que precisam de fazer para dar rosto à dor. Pois é, as dores podem ter rosto e é preciso conhecê-lo para entender as razões do corpo gritar. Na verdade, uma grande parte das nossas dores vem de dentro, de um profundo que não vê, mas que trespassa o corpo e lhe deixa marcas. E a cura é, por isso, muito mais interna do que externa. É preciso ir dentro, buscar fundo, olhar para lá do que é visível para alcançar aquele alívio que ultrapassa a cura física. É a cura por inteiro. Do quem somos. Eu sei. Conheço a dor e a profundidade das suas raízes. Já lá estive nesse emaranhado de lugares sós, apenas com dor. E foi preciso ir fundo, com coragem, mas com a vontade de quem quer ser mais do que dor e de que quem se recusa a não ser mais do que uma definição da dor. Encontrei nesta busca a Osteopatia e encontrei mais. Descobri a Terapia Transpessoal que nos leva para lá do que se vê e nos conduz para o centro do que se sente. E neste meio, que primeiro nos desconforta para depois nos confortar, encontrei a a razão da minha dor e a razão por que não valia a pena permanecer com ela. Neste encontro de razões, percebi também a jornada de uma vida inteira, o motivo da poesia com que sempre olhei para as pessoas. Porque, afinal, somos tudo isso. um conjunto de diferentes poesias que se cruzam e entrelaçam. E esta é também a minha grande doação ao tanto que recebo. E faço-o, todos os dias, enquanto osteopata e facilitadora emocional, ajudando, assim, pessoas a lidarem com a dor e a aprenderem a curarem-se dela, através do conhecimento de si próprias. E a vida é tão mais fácil quando conhecemos as razões da nossa dor e podemos escolher não permitir mais que ela, a dor, nos torne longe de tudo o que somos!
Cristina Maçorano
