23/10/2025
Há registos paroquiais que são, em si mesmos, verdadeiras pérolas de humor involuntário. Entre datas solenes e nomes piedosos, surgem detalhes que nos arrancam um sorriso, lembrando-nos que até a burocracia celestial pode tropeçar no calendário terrestre.
Tomemos o caso do menino António. No seu registo de baptismo, lavrado com toda a p***a e letra caprichada, lê-se que nasceu a 30 de Fevereiro de 1840. Ora, nem o mais imaginativo dos almanaques ousou conceder tal dia ao mês de Fevereiro, nem mesmo nos anos bissextos mais generosos!
Podemos, pois, imaginar o pároco, cansado de tantas certidões e criancinhas a batizar, hesitar entre o 28 e o 1, e, num gesto de pura criatividade administrativa, inventar um dia novo: o improvável 30. Talvez tenha sido um simples deslize de pena.
O certo é que, quase dois séculos depois, o pequeno António continua a nascer num dia que nunca existiu. E eu, ao encontrar tal preciosidade entre folhas rasgadas e tinta desbotada, não posso deixar de sorrir. Porque há, nesses erros humanos, uma doçura intemporal: o vestígio de que até nos registos mais sérios há espaço para um toque de fantasia.