29/10/2025
Os confrontos entre o CV e o Estado ultrapassaram a categoria de conflito urbano e virou disputa territorial pela soberania em vastas porções do RJ.
A violência incessante, marcada por megaoperações de alto impacto e baixíssima eficácia, sugere que o conflito não é um problema a ser resolvido, mas uma condição funcional para manutenção de poder e lucros.
O C.V de hoje é um exército paralelo equipado com fuzis, coletes, drones e comunicação criptografada.
Essa escalada bélica é resposta direta a décadas de políticas de segurança pautadas pela lógica da guerra, com incursões violentas como se estivéssemos em Bagdá.
A paramilitarização das facções é a militarização do Estado refletida no espelho. Quando o poder público abdica de toda presença que não seja a ponta do fuzil, não surpreende que o fuzil se torne a linguagem universal do território.
A narrativa oficial classifica o conflito como “polícia contra bandido”. Na realidade, civis são pegos no fogo cruzado.
As operações seguem um script letal - helicópteros, blindados, tiros contra alvos que incluem casas, escolas e postos de saúde. Ao final, corpos. Alguns, membros de da faccão. Outros são trabalhadores, crianças, idosos.
Isso revela a de Mbembe: o poder estatal determina quem vive e quem morre. A polícia não entra para proteger, mas como força de ocupação. O Estado deixou de ser provedor de direitos para se tornar fonte primária de ameaça.
O conflito é funcional: a guerra gera lucro tanto pro crime organizado quanto pros setores corruptos do Estado. O foco no confronto desvia recursos da verdadeira frente: inteligência e combate à corrupção.
Pros políticos, a “guerra ao tráfico” é plataforma eleitoral inesgotável, capital político baseado em promessas que jamais se cumprem.
É um ciclo perverso: ausência estatal gera vácuo de poder, o crime preenche o vácuo, o Estado responde com violência, a violência gera mais recrutamento, que justifica mais ausência. E recomeça.
Enquanto isso, tráfico e extorsão financiam facções - pois o foco da polícia não está nos cofres, mas no confronto localizado.
O Rio continuará refém desta guerra enquanto o Sistema lucrar com a mesma.