20/06/2022
Distinguir: culpa, responsabilidade e implicação.
Escutar é, frequentemente, uma atividade que se desenvolve em torno da procura das causas, da tomada de decisões ou da procura de respostas. Aristóteles dividia os discursos em três gêneros: o judiciário, o deliberativo ou político e os elegíacos ou de louvor. Nos três casos há uma causa, que organiza e orienta o diálogo, esteja ela no passado, no futuro ou no presente. No caso dos discursos político e judiciário, a orientação é para a disputa do antagonismo; no caso do discurso de louvor, ela é colaborativa. Podemos dizer que essa causa é a determinação da culpa no discurso judiciário, a distribuição de responsabilidades no discurso político e a escolha da implicação no discurso elegíaco. No caso do discurso político e do elegíaco, o sentido é para o que fazemos juntos, ao passo que no discurso judiciário é para os fatos do mundo e para as coisas.
Implicação é um termo lógico que tem a ver com a consequência que damos às palavras. Responsabilidade é um termo relacionado ao nível de autonomia que dispomos para criar, seguir e justificar nossas regras de ação. Culpa é um termo moral ligado à violação de preceitos, ideais ou expectativas. A implicação produz sujeitos e desejos, a responsabilidade produz compromissos e reparações, já a culpa produz vítimas e carrascos, santos e vilões.
Mas, com frequência, produzimos culpados unicamente para não nos perguntar sobre nosso nível de responsabilidade, e nos contentamos com a responsabilidade jurídica ou moral, apenas para não confrontarmos nosso próprio desejo. A responsabilidade e a implicação acontecem em silêncio, a culpabilização e a denúncia são ruidosas, por isso exteriorizam em palavras o que não conseguimos conciliar com o silêncio em nós mesmos.
Responsabilizar aponta para a solução. Culpar aponta para o problema.