24/08/2025
A ITÁLIA ANTIGA
■ Fontes de informação
No século IV a.C, exatamente quando o mundo grego, apesar de constituir uma civilização florescente desmantelava -se como unidade política, um processo oposto ocorria noutra parte da Terra.
Na Itália a unificação política adquiria ímpeto e um poderoso império, incluindo toda a península, co'meçava a formar-se.
Essa evolução ocorria não entre os colonos gregos da Itália e Sicílía que, como se sabe, não foram capazes de manter uma união permanente nem mesmo entre si.
Ocorria nas tribos italianas, que há longo tempo mantinham relações com etruscos e gregos, cuja cultura gradualmente adotaram.
Em virtude desse processo de união, a Itália destacou-se rapidamente no panorama político do séc IV a.C,e a partir do século II a.C., sua participação nos assuntos públicos do Oriente tomou-se decisiva, os gregos tinham que se inclinar à sua orientação.
Esse estado de coisas, que fixou o curso da evolução da humanidade durante muitos anos, suscita uma questão fundamental.
Como foi possível, em solo italiano e à base de uma liga presidida por um de seus membros, criar um poder único, com um forte exército e um tesouro cheio, enquanto a Grécia, com seu gênio orador, não conseguiu o mesmo resultado, apesar das numerosas tentativas?
Em outras palavras:
por que Roma, apenas uma cidade-Estado como Atenas ou Esparta, conseguiu resolver o problema que atormentara tanto Atenas como Esparta, e até as monarquias gregas fundadas na força militar pelos sucessores de Alexandre?
O nascimento desse império, tendo Roma como capital, e sua extenção pela península e mais tarde pelo mundo, impressionou enormemente, como fato histórico, os pensadores e historiadores da antigüidade,fossem naturais da Itália, e portanto criadores daquele império, ou gregos, e portanto forçados a se inclinarem ante seu ímpeto.
Grandes espíritos, como Políbio,o historiador grego que descreveu os dias de êxito de Roma e suas brilhantes vitórias no Oriente e Ocidente no século II a. C., e uma sucessão de eminentes estadistas romanos, homens de cultura e pulso,dedicaram suas reflexões a esse problema, procurando encontrar uma explicação satisfatória.
A justificativa que deram foi ditada pelas idéias políticas e filosóficas correntes em sua época. Partindo da suposição de que a prosperidade,de um Estado depende em parte das qualidades morais dos homens e em parte da excelência de sua constituição,os filósofos historiadores gregos atribuiram o êxito de Roma a essas duas causas,as virtudes dos cidadãos e a perfeição da Constituição romana.
Constituição que realizava na prática o ideal criado muito antes pelos filósofos gregos, a partir de Platão. Nós, porém, não podemos julgar que essa explicação seja suficiente.
A investigação sobre as condições de vida em Roma e na Itália nos provou aquilo que Políbio começava a suspeitar no fim de sua vida: que a idéia dos antigos sobre a Constituição romana e as virtudes morais e cívicas do povo de Roma é exagerada, não corresponde exatamente aos fatos e, de qualquer modo, não constitui uma resposta cabal à pergunta.
É claro que as causas do, êxito de Roma são mais complexas e profundas:só podem ser descobertas pelo estudo cuidadoso do meio histórico que modelou o curso da vida na Itália, a partir da antigüidade remota.
Mas desse período antigo conhecemos pouco.
Os gregos se interessavam principalmente pela sorte de suas colônias na Sicília e no Sul da Itália.
Conheciam as tribos italianas já no século VII AC,mas não tiveram a atenção despertada por elas senão dois séculos mais tarde, principalmente no fim do século IV a. C. e princípio do século III a. C.
Deve-se acrescentar que a copiosa literatura histórica produzida pelos gregos sicilianos e italia nos não chegou até nós,ou nos chegou apenas em fragmentos.
Destes, os mais preciosos foram os copiados pelos escritores romanos, entre 100 a.C. e 100 a.D., do historiador grego Timeu, natural de Tauromenium (hoje Taormina) na Sicilia, que viveu em fins do século IV e primeira metade do século III a.C., corrigindo tudo o que então se sabia sobre a história dos diferentes clãs italianos.
A tradição histórica, preservada pelos próprios italianos e remodelada pelos historiadores romanos dos últimos três séculos a.C., não;só é reduzida como deliberadamehte deturpada.
As tribos italianas não dispunham de registros, contemporâneos de fatos históricos.
A arte da escrita lhes chegou com atraso e pouco foi usada para pérpetuar a lembrança dos acontecimentos.
Havia uma raça: residente na Itália, que podería ter criado uma tradição histórica mais antiga, os etruscos,cuja língua e escrita, porém, eram ininteligíveis à maioria dos italianos e mesmo aos homens de cultura de Roma.
Na verdade, não é provável que a tradição etrusca viesse de um passado muito remoto, ou merecesse muito crédito, pois raros são seus textos, preservados na pedra que ultrapassam o século IV a. C.
Nessas condições, não é de surpreender que os historiadores se espantassem quando;em fins do século III aC,começaram a reunir fatos sobre a História primitiva de Roma e Itália.
Seguindo as regras da pesquisa histórica então conhecidas, não encontraram quase nada na literatura grega ou na tradição local que lhes pudesse ajudar numa narrativa verídica dos acontecimentos ocorridos entre os italianos antes do século IV a.C.
A situação era um pouco melhor em relação aos séculos IV. e III a. C.,quando havia, tanto na Itália como na Grécia, pessoas interessadas na História italiana e que registraram fatos contemporâneos relacionados com as tribos italianas e com Roma.
Os próprios romanos se destacaram entre essas pessoas.
Para o período mais remoto, tinham de confiar nas seguintes fontes:
1) alusões casuais encontrada.,nos historiadores gregos do Sul da Itália;
2) (Conjecturas''feitas pelos mesmos historiadores sobre o passado da Itália, acerca do qual conheciam pouco e que procuravam ligar ao passado lendário da Grécia;
3) listas de magistrados romanos, que no entanto eram incompletas e inexatas, pelo menos até 320 a.C., quando o colégio de pontífices começou a reunir, com o objetivo de estabelecer um calendário, hstás de cônsules, a elas acrescentando notícias sobre os acontecimentos importantes, registro esse conhecido como a “crônica dos pontífices”;
4) tradição oral, preservada em canções cantadas à mesa das antigas famílias romanas ou ligadas aos mais antigos monumentos existentes na cidade;
5) antigüidades ainda existentes em certas instituições civis e religiosas;
6) fragmentos de informações derivadas da literatura histórica dos etruscos.
Sobre tais bases nenhuma História conjunta de Roma e da Itália desde os tempos antigos podería ser reconstituída.
Mas o orgulho nacional de Roma e o papel que ela começava a desempenhar na família dos impérios helênicos exigiam que,como os outros impérios e cidades do mundo civilizado, tivesse uma História própria que remontasse às origens, ou seja, à fundação da cidade.
Além disso, sua História deveria, de uma forma ou outra, estar ligada à História do mundo civilizado, ou, em outras palavras, à da Grécia, e ao mais antigo episódio dessa História,a guerra de Tróia.
Roma precisava ter um lugar no poema de Homero, o mais antigo monumento da tradição histórica grega. Nesse último período, era necessário mostrar como Roma se fortalecera cada vez mais, até tornar-se senhora da Itália, e como sua Constituição, aceita até pelos gregos como um modelo de perfeição, se fez gradualmente.
📚Fonte:
História de Roma.
M.Rostóvtzeff
Fonte:. Presente de Grego