18/09/2022
Nós, os pais, entendemos reclamar contra livros, artigos ou posts que nos “inundam”, todos os dias, com dicas em relação às emoções das crianças. E a favor de formas pré-fabricadas de falarmos com os nossos filhos.
Tememos, aliás, que sejam tantos os “sentidos proibidos”, os “stops” e as “direcções obrigatórias” que, a determinada altura, estamos sempre a ser advertidos contra os riscos de “traumatizarmos” os nossos filhos com os nossos gestos mais espontâneos. Às vezes, mais parece que nos querem equiparados à condição de pequenos robots - sem alma, sem dias de “telha” e sem pequenas fúrias - do que, simplesmente, como pais
A impressão que dá é que, à boleia da gestão das emoções, nos pretendem empurrar para uma espécie de inteligência artificial. Sem margem para as imemoriais pequenas asneiras à custa das quais todos crescemos como pais. Como se devêssemos ser comedidos e racionais, muito mais do que “emotivos”. Ou acalorados. Tudo acompanhado por um comboio de coisas que não podemos dizer: “Não compare”; “Não pergunte se quer comer”; “Não fale por ela”; “Não diga nem ‘porque sim’ nem ‘porque não’”; Nem “não faças”, “não mexas” ou “tem cuidado”; Nem “não chores”, claro. “Não ralhe!”. “Não grite!”. “Seja positivo”!
Ora, nós temos direito a ser “só” pais! Sabemos - até por experiência própria - que as coisas ásperas que escutámos se guardam cá dentro; sim. Como também se guardam histórias, historietas e lenga-lengas. Cheiros e olhares. Alguns sons, cantigas e canções de embalar. E o amor! Logo, parem de nos empurrar para a inteligência artificial, dando-nos um ror de coisas que não podemos dizer, que não podemos fazer ou que quase não podemos pensar. Será que, no meio de tantas proibições, consideram o “dedo que adivinha” dos pais é uma ficção? E o seu “sexto sentido”? E a tentação de “ser mosca” de todas as mães? E o sentimentimentozinho de culpa que nos faz nunca fugir à consciência dos nossos erros? Atenção, senhores que nos querem irrepreensíveis: os pais perfeitos são os maiores inimigos dos bons pais! Por isso, temos o direito a errar! E a exagerar, dentro dos limites da sensatez dos pais. E a aprender. Sempre! Todos os dias. De dia e de noite. Mas a amar. Sem nãos e mais nãos!