29/10/2025
Baby Come Back
Eram quase onze horas da noite quando iniciamos a última sensada do dia. Todos ali já haviam cumprido uma jornada excepcional, e exaustiva. Muitos de nós estávamos de pé desde as quatro, quatro e meia da manhã, trabalhando sem pausa, movidos apenas por um propósito maior.
Era um parto programado. Tudo transcorria bem.
Até o nascimento.
Apresentação pélvica.
Bebê hipotônico.
Não chorou.
Pedi ao meu colega obstetra que realizasse o estímulo, sem resposta. Pedi para clampear o cordão, peguei a criança e levei ao berço aquecido.
Manobras iniciais. Nenhuma resposta.
Iniciei então a ventilação com pressão positiva, o ponto-chave daquele momento.
“Vamos, meu amigão. Teu papai está aqui. Tua mamãe está aqui. Reage. Vem com a gente.”
Um, dois, três, quatro… trinta segundos.
E então veio o suspiro.
O primeiro suspiro da vida.
Ele chorou.
A mãe chorou.
O pai chorou.
Após esse choro da vida, levei o bebê para o colo da mãe e deixei que tivessem aquele primeiro contato, puro, intenso, indescritível. Foi então que começou a tocar Baby Come Back.
Uma música sobre amor, sobre voltas, sobre recomeços.
E era exatamente isso o que vivíamos ali: um reencontro de almas, entre o bebê, o pai e a mãe.
Naquele instante, passaram pela minha cabeça as imagens de um dia inteiro de entrega. Quantas vezes abrimos mão de tanto, para cuidar do outro?
E mesmo cansado, eu me senti completo. Sou feliz no que faço, porque faço com amor.
Posso não agradar a todos, mas me dedico por inteiro, com a melhor das intenções.
Quando Baby Come Back começou a tocar, depois de tudo aquilo, senti vontade de dançar.
De cantar.
De celebrar a vida.
Assim como diz a canção:
“Baby, come back, any kind of fool could see.
There was something in everything about you.”
E havia mesmo, havia algo de especial em tudo o que aconteceu naquela noite