15/07/2025
Sou intensivista neonatal desde 2019. Durante todos esses anos, estive do lado de dentro da UTI, orientando famílias sobre como se posicionar ao lado de seus bebês na incubadora, sobre a forma adequada de entrar na UTI neonatal, respeitar os protocolos de higiene, os cuidados de segurança. Foram tantos bebês que coloquei, com minhas próprias mãos, nos colos de seus pais pela primeira vez… Mas hoje a história se inverteu.
Hoje, pela primeira vez, eu me vi do outro lado. Meu filho Murilo nasceu e, logo após o parto, evoluiu com desconforto respiratório. Precisou ser encaminhado à UTI neonatal para suporte ventilatório. E ali eu estava, não como médico, mas como pai.
Entrei na UTI com o coração apertado, cada passo carregado de uma ansiedade que eu tantas vezes presenciei em outros pais. Me vi ao lado da incubadora, rezando e pedindo a Deus pela melhora do meu pequeno — exatamente como já vi tantas mães e tantos pais fazerem ao longo desses anos. E percebi, naquele instante, que talvez não fosse eu quem ensinava esses pais como se comportar dentro da UTI. Talvez fossem eles, com sua fé, sua entrega e sua coragem, que me ensinaram a ser um médico melhor.
Hoje também tive a oportunidade de colocar Murilo no colo pela primeira vez. Foi um momento de profunda emoção — a alegria indescritível do primeiro encontro misturada à gratidão por todas as vezes em que, no passado, eu também pude proporcionar esse instante sagrado a outras famílias. Senti um dever cumprido: o de ter feito o que era certo, mesmo quando muitos duvidavam se deveria ser feito.
Murilo vai se recuperar. Ele vai melhorar. A nossa fé é inabalável. E eu tenho certeza de que, além de sair deste momento como um pai melhor, também sairei como um profissional mais humano. Um médico ainda mais comprometido em acolher, em entender a dor do outro, e em seguir buscando ser a melhor versão de mim para cada família que cruzar meu caminho.