26/07/2025
Quem foi minha avó — e por que ainda vejo ela em mim todos os dias
Esses dias eu parei pra olhar umas fotos, e me dei conta de um privilégio profundo: eu existi no mesmo tempo que a minha avó. Fomos amigas, cúmplices, parceiras. Uma da outra.
Com ela, eu era mais leve, mais faceira, mais doida (no melhor sentido), mais espontânea. E hoje, todos os dias, tento ser um pouco mais assim: um pouco mais eu-com-ela.
A conexão que tivemos foi rara, transformadora. Ela me amou do jeito mais inteiro e verdadeiro possível. Me acolheu nas burradas, me orientou com carinho, me aceitou em cada fase — e foi meu maior refúgio em tantas outras.
Na infância, eu a via naquela salinha pequena, onde trabalhava com telemensagens — lembra disso? Ela gravava homenagens de aniversário, de casamento, declarações públicas e secretas de amor. Adoçava a voz pra cada frase sair com mais ternura ainda.
Meu primo Maurício brincava dizendo “tulululu, temençazem” quando queria acordar ela da sestia.
E hoje percebo: eu uso esse recurso o tempo todo. A escuta sensível. A fala que toca. Aprendi com ela.
Vejo ela em mim. No meu jeito de falar, nas decisões que tomo, nas alegrias que vivo. E sei que ela se alegraria com cada uma delas. Às vezes, nas horas difíceis, mentalizo ela do meu lado, dizendo aquela coisa doce, acolhedora, que só ela sabia dizer.
Ainda sei o número dela de cabeça — nunca salvei, porque nunca precisei. Por um tempo, achei que nada mais fazia sentido sem ela aqui. Mas hoje, com a dor um pouco mais amadurecida, entendo: é uma honra continuar.
É uma honra ser o canal por onde parte do que ela foi ainda vive.
Minha avó foi uma mulher incrível. Todo mundo que a conheceu diria isso.
Mas pra mim, ela foi, é — e sempre será — minha Maínha.