
05/08/2025
Tinha regressado ao trabalho há meia dúzia de meses após licença de maternidade . Ao trabalho que me apaixonava , e onde era muito muito feliz.
Trabalhava naquele local há mais de 7 anos. Tinha paixão, experiência, e em breve iria especializar-me na área que me preenchia e que iria ser fundamental na função que desempenhava.
Até ao dia, em que tive a necessidade de me fazer valer um direito básico:
Ser mãe.
Fecharam-me num gabinete de chefia, com outra colega numa situação semelhante:
Mães de crianças que iam completar os 2 anos em breve .. que usufruíam de um horário de amamentação e que necessitavam de um horário flexível (diurno)
A proposta era simples : ou aceitaríamos voltar a fazer turnos rotativos e abdicávamos do horário de amamentação , ou éramos transferidas para outro local.
Uma de nós aceitou. A outra não.
Uma de nós implorou a todo o custo para não sair dali.
A outra não se demoveu. Não só porque não podia, mas também porque não queria. Tinha as suas prioridades bem definidas.
Mas esta pessoa pagou um preço caro ao não se ter vergado perante a autoridade …
… foi transferida para um local que não se identif**ava, e chorou meses a fio por ter sido afastada de um lugar que amava, onde era boa profissional, e pelo qual tinha investido tempo e dinheiro…
E tudo … porque um dia lutou pelo direito de ser mãe.
Esta pessoa fui eu.
Portanto quando me falam de abuso…
… Abuso é terem-me colocado entre a espada e a parede para escolher entre a minha família e o meu trabalho
… Abuso é a pressão e a chantagem que fazem ás mães trabalhadoras
… abuso é o olhar de desdém e desaprovação de que somos alvo quando se diz que amamentamos crianças com mais de 2 anos
… Abuso é ver uma mulher impor-se perante a outra que chorava, envergonhada e desesperada.. pedindo repetidamente “dê-me uns meses para a poder desmamar.. ela é muito agarrada a mim”
… Abuso é de quem exerce o seu poder para coagir, reprimir e humilhar as mães.
Isto sim, é abuso.