26/09/2025
Quando terminei a leitura de "O Mito de Ophídia", fiquei a sentir que deveria tê-lo lido mais cedo, que talvez me tivesse ajudado em momentos difíceis, quando me senti profundamente vulnerável e sozinha, sem saber o que fazer nem como. Depois, percebi o que acabamos por perceber sempre: que chegou no momento certo, que tudo tem o seu tempo, até os livros que lemos. 📙💫
Élia Gonçalves, psicóloga e coordenadora pedagógica da Escola de Desenvolvimento Transpessoal, explora a ideia de que nós, mulheres, tal como as serpentes, mudamos de pele ao longo da vida para que possamos crescer. Tal acontece sempre que atravessamos crises difíceis, dores viscerais, ou sempre que somos tomadas por uma necessidade excruciante de mudar, de nos expandirmos para abarcar tudo o que viemos ser nesta vida. 🐍
Diz-nos ela que, nestas alturas em que nos sentimos sem chão, em que deixamos de ter uma estrutura conhecida e segura para nos aconchegar os passos, o mais sábio que podemos fazer é procurar uma gruta onde nos possamos deixar ficar, enroladas sobre nós mesmas, à espera que a nova pele desponte, para depois voltarmos a sair para o mundo.
A autora fala-nos do novo arquétipo que se ativa em nós - Ophídia - e leva-nos a reconhecer um caminho de dor com que é difícil alguma mulher não se identificar, pelo menos nalgum momento: a sensação de nunca ser suficiente, a ânsia da perfeição, a luta pela independência, a disponibilidade para todos cuidar, mesmo que se esteja só, a falta de compaixão por nós mesmas, a incapacidade de nos perdoarmos nas falhas...
Tenho o livro todo sublinhado e isso diz muito da relevância que lhe encontro. 🫀 Recomendo-o - em jeito de biblioterapia - a mulheres que se debatem com a dor da troca de pele, para que não se sintam tão sós na gruta, especialmente as que possuem já algum contacto com linguagem simbólica, arquetípica, metafórica – transpessoal. 👣🌿
Élia Gonçalves, "O Mito de Ophídia", Edições Mahatma, 2017