
16/07/2025
Além da importância da partilha como processo íntimo e pessoal, o que Lupita Nyong’o tem feito é um ato de afirmação radical e política. Sua escolha de expor sua experiência com os miomas não é só um relato, é um chamado coletivo. Ela nos convoca a olhar com seriedade e sensibilidade para as doenças que marcam a vida de tantas mulheres e pessoas com útero, especialmente mulheres negras, que historicamente têm seus corpos silenciados, medicalizados e atravessados por violências institucionais.
Lupita está mobilizando uma pesquisa viva: ela questiona os métodos invasivos. Ela nos lembra que o corpo feminino e, principalmente, o corpo da mulher negra, não pode continuar sendo tratado como campo de experimentação ou como máquina reprodutiva.
Estamos vivendo um tempo interessante e necessário, em que mulheres públicas e influentes têm usado suas vozes e visibilidade para falar das dores que atravessam a intimidade ,e por isso mesmo, o coletivo. A endometriose, a menopausa, os miomas, a infertilidade, os abortos espontâneos ou não, não são só “doenças” ou “problemas de saúde”: são também reflexos de um sistema que adoece nossos corpos com o excesso de trabalho, com a negligência médica, com o racismo estrutural e a desinformação.
Essa movimentação é política. É uma recusa ao silêncio e uma revalorização dos saberes que sempre existiram entre nós, transmitidos pelas parteiras, benzedeiras, mulheres de reza, mães e avós que conheciam o poder das ervas, da argila, do v***r, da escuta. Quando uma mulher negra escolhe falar sobre seu útero em público, ela está reocupando o centro do debate sobre saúde, ciência e autonomia.
O que está em jogo aqui não é só uma nova forma de tratar os miomas, mas sim uma nova ética do cuidado.
É isso que a Lupita,como tantas outras mulheres negras no Brasil e no mundo,está anunciando: o fim do ciclo do silêncio e o começo de uma medicina do sentir. Uma medicina que une ciência, afeto, ancestralidade e liberdade. Porque nossos corpos não são objetos. São territórios de saber, de história e de futuro.Afinal quem pode vir a vida sem passar por uma Yoni?
Me conta, vc vive ou conhece alguém próximo que vive os desconfortos do mioma?