05/08/2025
𝐌𝐀𝐈𝐒 𝐔𝐌 𝐀𝐑𝐓𝐈𝐆𝐎 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐪𝐮𝐞𝐦 𝐐𝐔𝐄𝐑 𝐀𝐏𝐑𝐄𝐍𝐃𝐄𝐑 𝐚 𝐃𝐄𝐅𝐄𝐍𝐃𝐄𝐑-𝐒𝐄 𝐝𝐚 𝐅𝐢𝐛𝐫𝐨𝐦𝐢𝐚𝐥𝐠𝐢𝐚!
A fibromialgia (FM) é uma síndrome dolorosa crónica que se manifesta principalmente no sistema músculo-esquelético, comumente observada na prática médica diária e possui etiopatogenia ainda obscura.
Frequentemente as dores são acompanhadas por fadiga, distúrbios do sono, sintomas psiquiátricos e múltiplos sintomas somáticos.
Apesar da dor musculoesquelética, 𝐍Ã𝐎 𝐡á 𝐞𝐯𝐢𝐝ê𝐧𝐜𝐢𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐈𝐍𝐅𝐋𝐀𝐌𝐀ÇÃ𝐎 𝐧𝐞𝐬𝐬𝐞𝐬 𝐭𝐞𝐜𝐢𝐝𝐨𝐬.
Epidemiologia da fibromialgia:
A fibromialgia (FM) é uma das condições clínicas dermatológicas mais comuns, sendo uma causa frequente de dor crônica, atrás apenas da osteoartrite, e a causa mais comum de dor musculoesquelética generalizada em mulheres entre 20 e 55 anos.
Em estudos feitos nos EUA e na Europa a prevalência encontrada foi de até 5% na população geral e ultrapassou 10% dos atendimentos em clínicas reumatológicas.
No Brasil, estima-se que a prevalência seja de 2,5%, predominante no s**o feminino, principalmente entre os 35 e 44 anos.
A FM é mais comum em mulheres do que homens e ocorre em crianças e adultos. É seis vezes mais comum em mulheres em relatórios de clínicas especializadas, embora a predominância do s**o feminino não seja tão marcante na comunidade e quando se usa critérios de pesquisa que não requerem um exame de pontos dolorosos.
Fisiopatologia:
Existem muitas controvérsias relacionadas a patogênese da FM, pois não há substrato anatômico na sua fisiopatologia e seus sintomas que se confundem com um processo depressivo patológico e com a síndrome da fadiga crónica. Por esse motivo, alguns especialistas consideram a fibromialgia como uma síndrome de somatização.
𝐍𝐨 𝐞𝐧𝐭𝐚𝐧𝐭𝐨, 𝐚𝐭𝐮𝐚𝐥𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞, 𝐞𝐯𝐢𝐝ê𝐧𝐜𝐢𝐚𝐬 𝐚 𝐩𝐚𝐫𝐭𝐢𝐫 𝐝𝐞 𝐢𝐦𝐚𝐠𝐞𝐧𝐬 𝐜𝐞𝐫𝐞𝐛𝐫𝐚𝐢𝐬 𝐢𝐧𝐝𝐢𝐜𝐚𝐦 𝐪𝐮𝐞 𝐡á 𝐮𝐦𝐚 𝐬𝐞𝐧𝐬𝐢𝐛𝐢𝐥𝐢𝐳𝐚çã𝐨 𝐜𝐞𝐧𝐭𝐫𝐚𝐥, 𝐜𝐨𝐦 𝐫𝐞𝐬𝐩𝐨𝐬𝐭𝐚 𝐞𝐱𝐚𝐠𝐞𝐫𝐚𝐝𝐚 𝐚𝐨 𝐞𝐬𝐭í𝐦𝐮𝐥𝐨 𝐞𝐱𝐩𝐞𝐫𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚𝐥 𝐝𝐞 𝐝𝐨𝐫 𝐞 𝐚𝐥𝐭𝐞𝐫𝐚çã𝐨 𝐞𝐬𝐭𝐫𝐮𝐭𝐮𝐫𝐚𝐥 𝐞 𝐧𝐚 𝐟𝐮𝐧çã𝐨 𝐧𝐞𝐮𝐫𝐨𝐭𝐫𝐚𝐧𝐬𝐦𝐢𝐬𝐬𝐨𝐫𝐚.
𝐄𝐬𝐬𝐚 𝐭𝐞𝐨𝐫𝐢𝐚 é 𝐫𝐞𝐟𝐨𝐫ç𝐚𝐝𝐚 𝐩𝐞𝐥𝐚𝐬 𝐩𝐫𝐞𝐬𝐞𝐧ç𝐚 𝐝𝐞 𝐚𝐥𝐭𝐞𝐫𝐚çõ𝐞𝐬 𝐝𝐞 𝐬𝐨𝐧𝐨, 𝐡𝐮𝐦𝐨𝐫 𝐞 𝐝𝐢𝐬𝐭ú𝐫𝐛𝐢𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐠𝐧𝐢𝐭𝐢𝐯𝐨𝐬, 𝐛𝐞𝐦 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐟𝐚𝐭𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐫𝐞𝐥𝐚𝐜𝐢𝐨𝐧𝐚𝐝𝐨𝐬 𝐚𝐨 𝐬𝐭𝐫𝐞𝐬𝐬 𝐞𝐧𝐯𝐨𝐥𝐯𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐨 𝐬𝐢𝐬𝐭𝐞𝐦𝐚 𝐧𝐞𝐫𝐯𝐨𝐬𝐨 𝐚𝐮𝐭ô𝐧𝐨𝐦𝐨, 𝐪𝐮𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐢𝐛𝐮𝐞𝐦 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐚 𝐡𝐢𝐩𝐞𝐫𝐢𝐫𝐫𝐢𝐭𝐚𝐛𝐢𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐝𝐨 𝐬𝐢𝐬𝐭𝐞𝐦𝐚 𝐧𝐞𝐫𝐯𝐨𝐬𝐨 𝐜𝐞𝐧𝐭𝐫𝐚𝐥.
Além disso, fatores genéticos e ambientais provavelmente interagem para promover um estado de hiperirritabilidade crônica do sistema nervoso central e periférico.
Quadro clínico da fibromialgia:
O sintoma presente em todos os pacientes é a dor difusa e crônica, envolvendo o esqueleto axial e periférico.
Normalmente, pelo menos seis locais estão envolvidos em pacientes com FM, que podem incluir a cabeça, cada braço, o tórax, o abdômen, cada perna, a parte superior das costas e coluna vertebral e a parte inferior das costas e coluna (incluindo as nádegas).
Em geral, os pacientes têm dificuldade para localizar a dor e não conseguem especificar se a origem é muscular, óssea ou articular. Pode ser caracterizada como queimação, pontada, peso, “tipo cansaço” ou como uma contusão.
Descrições comuns incluem “Sinto como se estivesse doendo todo” ou “Sinto como se estivesse sempre gripado” ou ainda "parece que um camião passou por cima do meu corpo". Além disso, os principais fatores de piora relatados são o frio, tensão emocional ou esforço físico.
Às vezes, os pacientes descrevem edema articular, embora sinovite não esteja presente, particularmente nas mãos, antebraços e trapézios.
Os principais sintomas extra musculares incluem distúrbios do sono e fadiga, presentes na grande maioria dos pacientes.
Atividades aparentemente menores agravam a dor e a fadiga, embora a inatividade prolongada também aumente os sintomas.
Os pacientes ficam rígidos pela manhã e não se sentem revigorados, mesmo que tenham dormido de 8 a 10 horas. A rigidez matinal pode ser difícil de diferenciar das demais doenças reumáticas, como na artrite reumatóide (AR) ou polimialgia reumática.
Os pacientes geralmente descrevem déficits de atenção e dificuldade em realizar tarefas que exigem mudanças rápidas de pensamento. Cerca 30% a 50% dos pacientes possuem depressão e/ou ansiedade. Além disso, alterações do humor e do comportamento, irritabilidade ou outros distúrbios psicológicos acompanham cerca de 1/3 destes pacientes, embora a condição psicopatológica não justifique a presença da fibromialgia.
Cefaleia do tipo tensional é relatada por 50% dos pacientes. Os pacientes também relatam frequentemente parestesias, incluindo dormência, formigamento, queimação ou sensação de rastejar ou rastejar, especialmente nos braços e nas pernas. Em pacientes com FM, o único achado que geralmente está presente no exame físico é sensibilidade, às vezes acentuada, à palpação modesta em vários locais de tecidos moles.
No entanto, não é evidenciado outros sinais flogísticos, como vermelhidão, calor, inchaço ou perda da função.
Diagnóstico da Fibromialgia:
O diagnóstico de FM deve ser considerado em qualquer paciente com mais de três meses de dor generalizada e quando não houver evidência de outra condição para explicar essa dor. Os outros sinais, como fadiga, alteração do sono ou comportamento, são comuns e, quando presentes, contribuem para suspeita diagnóstica.
O Sociedade americana de Reumatologia (ACR) criou os critérios diagnósticos preliminares de fibromialgia, que indica o diagnóstico quando o paciente apresenta dor difusa e crônica, fadiga e alteração do sono durante aproximadamente três meses, associada ao exame físico com a presença de dor em pelo menos 7 dos 18 pontos específicos (tender points) sensíveis a uma pressão localizada.
Tratamento da Fibromialgia:
O tratamento da fibromialgia visa reduzir os principais sintomas desse distúrbio, incluindo dor crônica generalizada, fadiga, insônia e disfunção cognitiva.
O tratamento deve priorizar medidas não farmacológicas. No entanto, a maioria necessita de terapia medicamentosa em algum momento.
Para todos os pacientes com fibromialgia, está recomendado o treinamento aeróbio cardiovascular. As atividades aeróbicas de baixo impacto, como caminhada, ciclismo, natação ou hidroterapia, são mais eficazes.
O tipo e a intensidade do programa devem ser individualizados e devem ser baseados na preferência do paciente e na presença de quaisquer outras comorbidades. Para pacientes que não têm doença leve ou que não responde a medidas educacionais e exercícios apenas, pode iniciar terapia medicamentosa com uma dose baixa de tricíclico à noite, sendo a amitriptilina a mais utilizada para dor crônica no Brasil.
O esquema terapêutico pode ser administrado da seguinte forma:
Amitriptilina: 5 a 10 mg uma a três horas antes de deitar. A dose pode ser aumentada 5 mg em intervalos de duas semanas até a dose mínima necessária (por exemplo, 25 a 50 mg).
A dose da amitriptilina pode ser limitada por efeitos colaterais adversos, especialmente em adultos mais velhos.
Para pacientes que não respondem aos te**es de tricíclicos de baixa dosagem ou que apresentam efeitos colaterais intoleráveis, outras dr**as podem ser tentadas , como a duloxetina, o milnaciprano ou a pregabalina.
Para pacientes que não respondem às medidas não farmacológicas e a monoterapia com medicamentos, indica-se a combinações de medicamentos, intervenções psicológicas e fisioterapia supervisionada.