
25/07/2025
A doença que aflige o ator Bruce Willis é chamada demência frontotemporal (DFT), mais especificamente uma variante conhecida como afasia progressiva primária (APP), que foi inicialmente anunciada em março de 2022 como afasia e, mais tarde, atualizada para DFT em fevereiro de 2023. Trata-se de uma condição neurodegenerativa devastadora, com profunda implicação nas funções cognitivas, linguísticas, emocionais e comportamentais.
A demência frontotemporal é um grupo de doenças cerebrais causadas por degeneração progressiva dos lobos frontal e temporal. Ela não é uma única entidade clínica, mas sim um espectro de patologias que afetam prioritariamente o comportamento social, a linguagem e, em estágios mais tardios, as funções motoras.
Subtipos Clínicos Principais
- Variante Comportamental (bvDFT): marcada por desinibição, apatia, perda de empatia e comportamentos compulsivos.
- Afasia Progressiva Primária (APP): apresenta-se com deterioração da linguagem com preservação inicial da memória e outras funções cognitivas.
- Subtipos:
- Variante semântica (perda de compreensão)
- Variante não fluente/agramática (produção verbal dificultada)
- Variante logopênica (dificuldade de encontrar palavras)
Bruce Willis apresenta características compatíveis com a APP variante não fluente, que cursa com esforço na fala, erros gramaticais e redução progressiva da fluência verbal.
Fisiopatologia breve
A DFT envolve a deposição de proteínas neurotóxicas anormais, como:
- Tau (como em doenças tauopatias)
- TDP-43 (proteína ligadora de DNA)
- FUS (proteína de fusão inapropriada)
Essas proteínas se acumulam nos neurônios corticais dos lobos frontal e temporal, levando à:
- Perda neuronal
- Glioses reativas
- Atrofia cortical regionalizada
Esse dano compromete circuitos relacionados à linguagem, tomada de decisão, comportamento social e autocontrole.
Diagnóstico
Baseia-se em:
- Avaliação neuropsicológica (com te**es específicos de linguagem e comportamento)
- Ressonância magnética cerebral (evidência de atrofia nos lobos frontal e temporal)
- PET cerebral com marcador de glicose (hipometabolismo focal)
- Exclusão de outras causas (como Alzheimer, AVC, tumores)
- Em alguns casos, exames genéticos (como mutações no gene MAPT, GRN ou C9orf72)
Diferença com Alzheimer
Ao contrário do Alzheimer, a DFT compromete primeiro o comportamento e/ou linguagem e só tardiamente afeta a memória. É uma demência precoce (com início entre os 45–65 anos), e não responde aos mesmos fármacos do Alzheimer.
Prognóstico e Evolução
A doença é inexoravelmente progressiva. Os pacientes podem evoluir com:
- Mutismo total
- Disfagia
- Paralisias
- Comportamentos autoagressivos ou apáticos
- Depressão e isolamento social
- Sobrevivência média entre 6 a 10 anos após o diagnóstico
Tratamento e Manejo
Não há cura. O tratamento é apenas sintomático e multidisciplinar:
- Terapia fonoaudiológica para maximizar a linguagem residual
- Intervenções neuropsiquiátricas para distúrbios comportamentais
- Suporte familiar e psicossocial
- Medicação adjuvante: antidepressivos, antipsicóticos atípicos em casos específicos
- Estimulação cognitiva e estratégias não farmacológicas
Impacto Psicossocial
A DFT representa uma tragédia pessoal e familiar intensa:
- Perda da identidade funcional
- Incapacidade de comunicação com clareza
- Desconexão afetiva e social
- Alto custo emocional e financeiro
No caso de Bruce Willis, a aposentadoria precoce do cinema reflete a magnitude da deterioração comunicativa e comportamental imposta pela doença. A revelação pública do diagnóstico também serviu como um importante alerta para conscientização sobre demências não-Alzheimer e seu impacto devastador, mesmo entre indivíduos célebres e com acesso privilegiado à saúde.